quarta-feira, 30 de março de 2016

Logística e Informações sobre saída de Mergulho para o Naufrágio Macau

Mergulhadora na proa do Naufrágio Macau. Foto: Marcus Davis.


O Ponto de Mergulho
Aracati,CE. Navio cargueiro naufragado em 1961 é a atração aqui. Possui cerca de 100m de comprimento e atrai grande quantidade de tubarões-lixa, cardume diversos como paruns, galos e pirangicas, lagostas, tartarugas e muitas outras espécies. Sem dúvida um dos melhores mergulhos do Ceará. Profundidade 10m - 18m. Nível Básico.
O mastro do navio.


Pré requisito

Incluso
  • Embarcação regulamentada com equipamentos de salvatagem
  • 02 cilindros e lastro
  • Lanche (água, refrigerante, biscoitos, frutas, sanduíches e doce de goiaba) 
  • Instrutor e/ou divemasters para conduzir o mergulho
Píer da Boca da Barra, Fortim, CE.

Não incluso

Datas e Valores

Local de Encontro 
  • Praça da Igreja de Fortim, CE (a 130km de Fortaleza)

Horário de Saída e Previsão de Retorno
  • Normalmente às 6:30 nos encontramos na Praça
  • Saída às 7:00 do Píer da Boca da Barra, na Marina de Fortim
  • Previsão de Retorno as 14:00
  • (horários de saída e retorno podem variar em função a variação de marés)

Cadurme de xilas no naufrágio.
Tempo de Navegação
  • Cerca de 1:45h cada trecho de ida e volta
  • A operação dura em média 7 horas (navegação ida e volta, e operação de mergulho com intervalo de superfície), portanto se sairmos mais tarde, chegaremos mais tarde. 

Recomendações
  • Recomendamos pernoite na Pousada da Eva ou Pousada Kina Fresca em Fortim
  • Caso opte por sair de Fortaleza de madruga para o embarque lembre-se que a viagem de carro pode durar entre 1:30h a 2:00h até Fortim
  • Podemos intermediar caronas junto a outros clientes participantes. 
  • Recomendamos o uso de remédios para enjoo
  • Protetor solar, roupas secas e toalha

terça-feira, 29 de março de 2016

O que afeta a visibilidade da água?

Mergulhadores no Cabeço do Balanço, no Parque Estadual Marinho, com excelente visibilidade, Fortaleza, CE.

A visibilidade da água é basicamente a distância na qual perdemos de vista uma referência, mas essa definição não é universal, pois infelizmente não existe um padrão para essa medida. Alguns mergulhadores dizem que a visibilidade é avaliada de acordo com que se consegue notar a presença de uma pedra por exemplo, enquanto outros mergulhadores dizem que a visibilidade é dada através da distancia que ainda é possível visualizar detalhes, por exemplo, perceber que uma tartaruga estava sobre a pedra.
Partículas em suspensão e
tonalidade esverdeada,
indicam baixa visibilidade.
Naufrágio BravamarX,
Fortaleza, CE.

Determinados sites divulgam a visibilidade de alguns pontos de mergulho no Brasil e no mundo, mas a maioria tem como base dados de institutos de meteorologia que retiram seus dados de fotos de satélite, usando nenhum tipo de fórmula ou aparelho específico para avaliar a visibilidade da água, sendo infelizmente, de pouca exatidão. 

Geralmente é bem confiável tomar como base o depoimento de outros mergulhadores, pois mesmo com a subjetividade de medição, é a fonte mais precisa. 

A visibilidade da água pode variar de zero a sessenta metros e pode mudar de acordo com a profundidade. Mudanças repentinas de temperatura e visibilidade, podem indicar a chegada de uma corrente. 

Em raras situações e em águas abertas, a visibilidade pode cair em questão de segundos, dificultando a orientação embaixo d'água. 

A principal causa de problemas de visibilidade é a existência de sedimento em suspensão na água e isso pode acontecer em ambientes onde o lodo do fundo é facilmente levantado pelo movimento da água. No caso dos rios com correntes não existe muito o que fazer, mas em águas paradas o principal cuidado ao nadar é evitar que o movimento das nadadeiras levante o lodo do fundo. 
A tonalidade esverdeada que observamos
próximo à costa normalmente indica
baixa visibilidade. Naufrágio Bragança,
Fortim, CE.

Muitas vezes a visibilidade em lagos, açudes ou rios com muito sedimento pode variar entre 5 metros e absolutamente zero, mas existem técnicas que mesmo com uma visibilidade um pouco limitada, você pode conseguir aproveitar o mergulho. 

Em águas com muita suspensão, lanternas são praticamente inúteis, já que acabam ofuscando o mergulhador com a luz refletida nas partículas suspensas. 

Existem alguns fatores principais que afetam a visibilidade

Movimento da água
As ondas, as correntezas ou até mesmo o movimento das pernas de um mergulhador que não controla bem a sua flutuabilidade ou o seu alinhamento do corpo, podem agitar os sedimentos do fundo e assim deixar a água turva e reduzir a visibilidade. Mas ao mesmo tempo, uma correnteza pode movimentar a água de forma a afastar as águas turvas e substitui-las por águas mais límpidas. 
Em açudes, a água esverdeada pode
indicar a presença de plânctons.
Mergulhador junto a um ninho de cupim
em uma árvore submersa no
Açude Castanhão, CE. 

Condições climáticas
As condições e alterações climáticas podem melhorar ou piorar a visibilidade. Ventos fortes podem tanto movimentar a água formando ondas que geram os problemas citados no item anterior, quanto empurrar as águas da superfície fazendo com que águas mais frias e profundas se elevem á superfície para substitui-las, o que aumenta a visibilidade da água (conhecemos esse fenômeno por ressurgência) . Uma chuva pode fazer com que sedimentos em terra firme escorram para dentro da água. 

Plâncton
O plâncton (organismos microscópicos que vivem em suspensão em água doce, salgada e salobra. Com muito pouca ou nenhuma capacidade de locomoção, sendo transportados pelas correntezas) pode se reproduzir rapidamente quando em condições de sol intenso, deixando a água turva ou com determinadas tonalidades. 

Composição do fundo
Partículas leves ou pequenas, como as encontradas em leitos lodosos, podem permanecer suspensas por longos períodos após alguma agitação. 

A cor da água pode afetar a visibilidade ou indicar como a visibilidade está. A água de um rio, de um açude ou do mar, podem apresentar colorações diferentes dependendo de fatores diversos, por exemplo: 
Água azul indica boa visibilidade e
mergulhos agradáveis.
Naufrágio Rosalinda, BA.

Azul
A água tende a absorver mais cores com comprimento de onda maior, como o vermelho e o laranja. Por isso, ao receber a luz do sol, ela reflete mais o azul, que é uma das cores com menor comprimento de onda do espectro de luz visível a nossos olhos. (a cor azul pode ser vista em águas profundas enquanto a cor vermelha, por exemplo, é absorvida nos 4 primeiros metros). 

Verde
O tom esverdeado é na maioria das vezes originário da presença de fitoplâncton, que é basicamente um conjunto de organismos microscópicos aquáticos que têm capacidade de realizar fotossíntese, vivem flutuando na água e que possuem um pigmento verde chamado de clorofila, fornecendo essa tonalidade à água. No mar a água esverdeada pode indicar a presença de areia em suspensão.
A água escura do Açude Castanhão.

Marrom
Essa tonalidade de água é comum em áreas próximas à foz de rios, onde existe uma grande quantidade de sedimentos minerais ricos em ferro, que fornecem essa cor escura. 

Preto
A água com essa cor é comum em mangues, devido à presença de ácido húmico, que é resultado da biodegradação de matéria orgânica (animais e vegetais em decomposição). Mas a água também pode assumir colorações escuras devido ao excesso de sedimentos minerais com a mesma tonalidade. 

No Ceará
Um dos lugares com melhor visibilidade no mundo é o Caribe pois a visibilidade caribenha oscila entre 30 e 40 metros na horizontal, mas no Ceará exitem locais com visibilidade excelente, como o Parque Estadual Marinho Pedra da Risca do Meio, que é formado por belíssimos recifes submersos (com uma riquíssima biodiversidade) e tem uma visibilidade subaquática impressionante, variando de 15 a 30 metros. 

Tonalidade azul escuro é sinônimo de
bons mergulhos. Mergulhadores em
Recife, PE.
Ao observarmos as praias cearenses notamos uma coloração esverdeada na superfície do mar. Os verdes mares bravios do Ceará indicam a presença de partículas em suspensão, algo que não é muito favorável para uma boa visibilidade. Ao nos afastarmos da costa observamos que a água torna-se azul. Às vezes a mudança na tonalidade da água é perfeitamente perceptível: a água verde "encosta" na água azul oceânica a cerca de 5 km da costa. Esse "encosto" é perfeitamente perceptível devido a diferenças de aspectos físicos e químicos da água. Após essa "linha divisória" quanto mais nos afastarmos da costa mais azul escuro revela-se a água do mar normalmente indicando uma boa visibilidade durante o mergulho.

Existem muitos pontos de mergulho de ótima visibilidade no estado do Ceará, como os da tabela abaixo. 


Aproveite as opções de mergulho que o estado do Ceará oferece, seja no mar ou em um rio. Confira os mergulhos que a Mar do Ceará oferece! 


Referências: 

terça-feira, 22 de março de 2016

O Barco de Acaraú seria o famoso Iate Palpite?


Mergulhador junto a estruturas do naufrágio O Barco de Acaraú. 

Segundo artigo publicado neste site por Augusto César Baros, "em 1859 foi criada uma comissão com o objetivo de fazer um levantamento nas províncias do Norte do Brasil, para pesquisar sobre os recursos minerais, hidrográficos, botânicos e mais outros, que sob o patrocínio de Dom Pedro II, amante da ciência, foi denominada de “Comissão Científica Exploradora”.

Esta comissão foi motivo de grande discussão no Império, sendo inclusive chamada de “Comissão das Borboletas”, devido à controvérsia sobre o seu trabalho. Composta por renomados profissionais de sua época, dentre eles, Gonçalves Dias, Barão de Capanema, o pintor José dos Reis Veloso, e depois objeto do trabalho de escritores como Gustavo Barroso, Renato Braga, Barão de Studart, o fato é que parte deste material produzido foi á pique junto com o barco que o transportava.

O Palpite
Iniciou no Ceará passando por Baturité, Guaramiranga, Ibiapaba, e, em Camocim, à partir da conclusão de seus trabalhos, formando assim um acervo de informações. Capanema contratou o transporte de parte desse material de Camocim para Fortaleza por via marítima através de uma embarcação tipo iate denominada "Palpite"."

Capanema foi um dos mais controversos membros desta comissão sendo atribuída a ele uma total falta de compromisso com os estudos propostos por Dom Pedro II. Ainda, foi especulado se o motivo do transporte marítimo de carga tão valiosa teria sido um naufrágio intencional visto a baixíssima produção cientifica realizada por este cientista.

O fato é que o Barão de Capanema contratou um barco chamado Palpite para transportar parte do resultado de seus estudos para Fortaleza e este barco naufragou no dia 13 de março de 1861 próximo da foz do Rio Acaraú (CAVALCANTE, 2012). Freire Alemão registrou em seu diário a notícia publicada pelo jornal "O Cearense". Um outro registro de Eduardo Campos também menciona a construção de uma embarcação chamada Palpite em meados da década de 1840.
Naufrágio: Pelo último vapor do norte receberam-se cartas da Granja por via de Maranhão noticiando a perda do iate Palpite que vinha para esta capital e trazia a bordo toda a bagagem que o Dr. Capanema não quis levar consigo para a Serra Grande, onde tencionava fazer uma excursão rápida, e em estação invernosa temiam achar todos os rios cheios. Entre os objetos perdidos vinha nas malas de roupa o livro de registro de todas as observações meteorológicas que cita até Sobral, da mesma sorte as observações astronômicas, e a descrição geológica da província, todos os manuscritos; e enfim as notas que serviam para passar o tempo quando [ilegível] demora em qualquer lugar [ilegível]. Perdeu-se igualmente toda a coleção fotográfica, uma série de vistas de nossas cidades e povoações, tipos, dendrológicos, utensílios usados pelo nosso povo, mas [apagado] etc. Assim como algumas fotografias de objetos microscópicos. Alguns instrumentos, livros, objetos preparados para analise química, entre eles os gases e águas do Pagé, varias plantas medicinais, e a maior parte das coleções de Sobral e Meruoca. Em um momento perderam-se trabalhos, que custaram tantas fadigas ao Sr. Capanema, e seu Adjunto o Cap. Coutinho, e muitas vezes foram eles eficazmente auxiliados pelo bom amigo, e companheiro de viagem o Dr. Dias; ao todo 13 volumes. Segundo notícias, que correm apenas escapou a tripulação do Navio. (Diário de Freire Alemão)
Esboço do croqui do naufrágio com indicações das estruturas principais. Por Marcus Davis. Todos os direitos reservados. 
O Barco de Acaraú
Atualmente a cerca de 4 milhas náuticas da foz do Rio Acaraú existe um naufrágio conhecido como "O Barco" ou "O Barco de Acaraú". Seguindo indicações do engenheiro de pesca Toivi Masih Neto que conhece bem a região fomos até o local. O naufrágio está a 7m de profundidade e completamente destruído. O sítio tem aproximadamente 35m de comprimento por 6m em sua largura máxima. É possível reconhecer o molinete da âncora, correntes (com elos característicos de um período passado) e uma grande âncora tipo almirantado. 
Molinete da Âncora

Os cavernames (as "costelas") de metal estão presentes mas não há sinal do casco, o que sugere que este revestimento fosse de madeira que é rapidamente decomposta no mar. Pelo posicionamento das estruturas é possível deduzir que o navio tocou o fundo sobre seu boreste colapsando aos poucos devido as forças da correntezas passam no local. 

Apesar de uma estrutura metálica cilíndrica na área da proa, há uma completa ausência de estruturas associadas a motores, tais como hélice, eixo, máquinas, etc, o que sugere uma embarcação à vela de grande porte. Essa estrutura cilíndrica metálica apresenta rebites em suas juntas o que indica que não foi construída utilizando métodos modernos de soldagem empregados a partir do início do século XX.
Abundância de peixes recifais

Uma explosão de vida marinha é observada na forma de pequenos peixes recifais, moreias e frequente visita de arraias.  

O local e condições conhecidas do afundamento do Iate Palpite em muito coincidem com as encontradas no naufrágio chamado "O Barco de Acaraú". O tamanho do sítio, o tipo de estruturas encontradas no local são fortes indícios de que tenhamos encontrado o famoso Iate Palpite. Estudos mais acurados e pesquisas inloco se fazem necessárias para só então podermos afirmar com certeza que encontramos o controverso Iate Palpite.

Vídeo do sítio.


Participaram da expedição
Franco Bezerra
Junior Alves
Marcus Davis

Texto e Fotos
Marcus Davis

Fontes
O Naufrágio do Iate Palpite ou seria o Iate Invencível?

Jornal O Povo
Percepções e Limites do Fazer Científico: o caso da imperial comissão científica de exploração (1859-1861)
A Fortaleza Provincial, Eduardo Campos, 1988
“O Brasil é o Ceará”:as notas de viagem de Freire Alemão e Capanema e suasimpressões sobre o Ceará (1859-1861), Francisca Cavalcante, 2012

segunda-feira, 21 de março de 2016

Mergulhamos no Naufrágio Ruy Wanderley em Bitupitá


Mergulhador junto a popa do naufrágio Ruy Wanderley. Acima é possível observar os dois lemes do navio.


Recentemente publicamos a história do naufrágio Ruy Wanderley ao largo de Bitupitá, a última vila do Ceará antes da divisa com o Piauí. Ao conhecermos sua história a curiosidade aumentou e embarcamos numa viagem de 400 km por terra e mais 4 milhas náuticas por mar até o local em que se encontra o naufrágio.

Tratava-se realmente de uma chata de de transporte de cargas em águas rasas. Possui o fundo plano (chato) e uma proa retangular e inclinada para superfície para facilitar o encalhe. O naufrágio está emborcado e mantém preservados proa e popa. Seu convés está destruído, possivelmente por ter ficado suspenso, apoiado entre proa e popa. Possuía cerca de 40m de comprimento e uns 4m de boca. Sua popa estreita possui cerca de 3m de comprimento e uma breve penetração é possível nesta seção do naufrágio onde é possível observar suas máquinas.

A vida marinha é abundante na forma de pequenos peixes, alguns crustáceos, corais e gorgônias.


Esboço do croqui do naufrágio. Por Marcus Davis. Todos os direitos reservados.

Peixe Morcego no
compartimento da pro.
"Em uma tarde comum do dia 5 de março de 1972 com o mar levemente agitado o navio Minuano começava a receber carga do navio Ruy Wanderley à contra-bordo. A carga era içada com guindastes para os porões do navio Minuano, sempre com movimentos cauteloso devido ao balanço do mar. Apesar da cautela nessa movimentação das ondas, os dois navios se chocavam violentamente pelas laterais. Com a pressa para terminar o processo de carregamento o mestre do Ruy não se preocupou muito com as batidas e continuou a manobra. Foi quando um dos operadores de guindaste observou ondas entrando no navio sem escoar.
Por volta das 18hs do mesmo dia começou a manobra alijamento da carga e após a descida da primeira lingada a tripulação sentiu o navio descer devido à sobrecarga, com isso começaram as pressas o trabalho para retirar as caçambas de sal para tentar evitar o naufrágio. No entanto nada adiantou, e um dos estivadores deu o alarme: “O navio está afundando! Cortas os cabos! Corta os cabos!” Cortaram os cabos para evitar que os dois navios fossem a pique e saltaram para o resgate que foi realizado pelas canoas que pescavam no local. Já era noite quando o navio Ruy Wanderley se despedia do seu trabalho em um trágico acidente, por volta das 19hs só se via uma pequena ponta do mastro do grande Ruy.
O navio Ruy Wanderley naufragou no dia 5 de março de 1972 por volta das 18hs em uma profundidade de 8 metros na baixamar e em mais ou menos na distancia de 5 km da praia, sendo hoje possível ver em um mergulho ao lado do curral de numero 32.
O relatório do inquérito atribuiu o acidente as fortes pancadas no Minuano e considerou responsável o mestre João Fagundes de Oliveira e o imediato (moço de convés) José felinto da Silva por insistirem no transbordo de cargas naquelas condições, sendo representado contra pela procuradoria por negligencia e imprudência, foram condenados a pena de multa de um salário mínimo."

domingo, 20 de março de 2016

Golfinhos na Beira Mar em Fortaleza: quem são os botos-cinza?

Boto-cinza Sotalia guianensis. (Foto: O Povo)
O boto-cinza (Sotalia guianensis) é um golfinho de pequeno porte que apresenta uma coloração acinzentada podendo variar de tom para mais claro ou mais escuro e com nadadeira dorsal triangular e pequena. É um mamífero aquático que pode atingir pouco mais de 2 m de comprimento, pesando cerca de 120 kg. Sua distribuição é costeira da América Central (Nicarágua) até o sul do Brasil (Santa Catarina).

Boto-cinza na enseada do Mucuripe.
(Foto: O Povo)
São, muitas vezes, vistos bem próximos da orla, geralmente pela manhã bem cedo e fim de tarde. Em pesquisas recentes, foi constatada uma preferência de ocorrência desses animais por cerca de 800m de distância da costa, quase sempre próximos a construções humanas como espigões, portos, marinas e estaleiros, pois essas construções os auxiliam no aprisionamento e captura de peixes.

Possuem expectativa de vida de cerca de 30 anos e idade média de maturação sexual começando com cerca de sete anos nos machos e entre cinco e oito anos nas fêmeas. A gestação deles pode durar 12 meses e os filhotes já nascem com cerca de 90 cm.

Grupo de boto-cinza. (Foto: Opovo)
São predadores considerados de topo, ou seja, está mais alto na cadeia alimentar, alimentando-se de peixes, crustáceos, moluscos, geralmente encontrados em regiões mais fundas, podendo ainda ser obtidas por meio de interações com outros botos do seu grupo.

São animais que vivem em grupos que podem conter, em média, 15 indivíduos e procuram, na costa, águas mais amena para sua sobrevivência, mas são bastante afetados pelas ações humanas que, podem algumas vezes ajudar, mas na maioria delas atrapalham na manutenção da vida desses animais.


O Risco
Mancha de resíduos levados ao
mar por água de chuva em Fortaleza.
A poluição da costa com o despejo irregular de esgoto, bem como de águas poluídas provindas de rios e galerias de chuva também poluída são o principal agressor desses animais, uma vez que as águas poluídas levam micro-organismos que geram doenças nos botos.

O avanço humano ao mar com a construção de espigões, marinas e estaleiros, acaba por fragilizar os ambientes ao quais os Botos-cinza estão presentes, dificultando na exploração do ambiente e obtenção de alimentos desses animais.

A presença de lixo sólido também agride sua integridade. Ao estudar o conteúdo estomacal de botos-cinza que morreram encalhados, pesquisadores constataram a presença de plástico, podendo relacionar a morte e posterior encalhe do animal com o material encontrado.

Lixo descartado irregularmente na
Beira Mar de Fortaleza.

Além disso, a pesca desordenada também representa perigo para o boto-cinza, seja reduzindo seus recursos ou mesmo na morte de alguns indivíduos, o que prejudica ainda mais na manutenção de grupo animal na nossa costa.


A importância
Como falado anteriormente, os Botos-Cinza (Sotalia guianensis) são predadores de topo, o que acarreta numa grande importância ecológica: a manutenção do equilíbrio do ecossistema. Assim, o boto-cinza regula a quantidade de organismos que vivem próximos a eles, seja predando diretamente, seja predando seus predadores.
Boto-cinza encontrado morto na
Beira Mar de Fortaleza apresentando
 marcas de rede de pesca.

A manutenção do equilíbrio costeiro que é realizada em parte pelos botos-cinza é fundamental para a continuidade de uma importante atividade econômica do estado do Ceará: a pesca. Um desequilíbrio desse ecossistema acarretaria um prejuízo ecológico e financeiro de grande proporção.

Além disso, o turismo é uma fonte econômica importante e a presença desses animais na nossa orla de Fortaleza pode ainda atrair o turismo com a demonstração de belezas naturais do nosso estado, com os incríveis saltos fora da água que eles podem fazer, divertindo a todos que os visualizam.

Boto-cinza observado na enseada
 do mucuripe. Foto por Yuri Alexsander, em 24/06/2011.

Em um recente levantamento desses animais, apenas 41 deles foram foto-identificados na enseada do Mucuripe, aqui em Fortaleza-CE, e esse número é bastante preocupante uma vez que não era tão difícil assim vê-los na Praia de Iracema, na Beira Mar, mas as visualizações estão cada vez mais reduzidas.

A conservação
Os Botos-Cinza foram declarados Patrimônio Natural de Fortaleza por meio da Lei nº 9949 de 13 de dezembro de 2012. A lei, além de objetivar proteger o boto-cinza na enseada do Mucuripe, tornou o dia 8 de junho, dia considerado como Dia Mundial dos Oceanos, como o Dia do Boto-Cinza Sotalia Guianensis.

Lei que declara o boto-cinza patrimônio natural de Fortaleza (Diário Oficial, 14/12/12).

A Aquasis possui um programa de monitoramento do Boto-cinza (Sotalia guianensis) desde 2009, observando, acompanhando e fazendo estudos com esse grupo de animais. O Projeto Manatii, também da Aquasis, trabalha no manejo, resgate, acompanhamento, estudo, de alguns mamíferos marinhos, entre eles o peixe-boi e o boto-cinza.

Então, não há dúvidas da importância da manutenção das espécies marinhas para a permanência desse ecossistema que tanto utilizamos, seja mergulhando, pescando ou mesmo num simples banho de praia, por isso é fundamental desenvolvermos consciência do uso desses ambientes a fim de reduzir ao máximo a degradação que podemos gerar neles.

Boto-cinza com filhote.
Conheça mais!
Referências:
Imagens:


terça-feira, 8 de março de 2016

A História do Açude Castanhão

Vista aérea do Castanhão com as doze comportas abertas

Localizado entre os municípios de Alto Santo, Jaguaribara, Jaguaribe e Jaguaretama, o Açude Castanhão, ou simplesmente Castanhão, é o maior açude público para múltiplos usos da América Latina e fica à 306,8 km (aproximadamente 4 horas de viagem) de Fortaleza.

A obra foi iniciada em 1995, durante o governo de Tasso Jereissati, e concluída em 23 de dezembro de 2002, pelo governador Beni Veras, em uma parceria entre a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará-SRH-CE e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas-DNOCS.

O açude ganhou esse nome devido ter sido inicialmente idealizado pela família Cunha, família que comandava a oligarquia da região na época e era dona da fazenda Castanhão, que posteriormente teve suas terras submersas quase por inteiro.

A capacidade de armazenamento do Castanhão é de 6.700.000.000 m³. Sozinho, ele tem 37% de toda a capacidade de armazenamento dos 8.000 reservatórios cearenses.

A criação do Castanhão propiciou muitos benefícios para a população cearense, como:

- Irrigação de 43.000ha de terras férteis do chapadão do Castanhão e da Chapada do Apodi;
- Garantia de água para o abastecimento da região Metropolitana de Fortaleza;
- Controle do nível do Rio Jaguaribe, evitando cheias e deixando o rio perene;
- Produção de 3.800t/ano de pescado;
- Instalação de uma usina hidrelétrica, com capacidade para gerar 22,5 megawatts;
- Criação de um polo turístico;
- Reservatório pulmão para transposição de águas (auxiliar na transposição do rio São Francisco);
- Execução de estações sismológicas e climatológicas;

Antes do Castanhão a maior barragem cearense era o Orós, no município de mesmo nome, que também é uma represa no Rio Jaguaribe, mas que comporta pouco mais da metade da capacidade do Castanhão.

O município de Jaguaribara foi submerso para a construção do açude e em substituição à cidade submersa, construíram uma nova sede do município, a Nova Jaguaribara. Mas ainda hoje existem conflitos em relação as terras perdidas que não foram devidamente indenizadas e a todo o patrimônio histórico do município que hoje está submerso e escondido nas águas do açude.

Mergulhador entre as ruínas da cidade submersa 
Devido à capacidade hídrica e a extensão territorial do açude, além da fauna e dos mistérios escondidos nas ruínas da cidade submersa, o lugar é de grande interesse para mergulhadores, a Mar do Ceará já realizou algumas expedições no local como a de mapeamento do açude e de mapeamento das casas submersas.

O Açude Castanhão possui 325 quilômetros quadrados de área inundada, sendo que a linha d’água é de 58 quilômetros em direção NE-SW do leito do Rio Jaguaribe. A profundidade do açude pode chegar a mais de 50 metros. A principal barreira tem 1.500 metros de extensão, 11 de largura, 12 comportas e quatro válvulas dispersoras.

O rio Jaguaribe antes da construção do Castanhão era conhecido como o maior rio seco do mundo, pois era um rio sazonal (tipo de rio que durante o período chuvoso apresenta bastante água, mas que pode desaparecer totalmente durante o período de estiagem) e localizado em um estado de clima semi-árido, o que não favorece a ocorrência de chuvas, mas se tornou perene com a construção do açude, que passou a regular o fluxo da água do rio.

Mapa mostrando a extensão do rio Jaguaribe e a localização do Castanhão

O Jaguaribe é o maior rio do Estado e é de extrema importância para todos os cearenses, ele ocupa cerca de 51,9% da área total do estado, o que equivale a, aproximadamente, 75 669 km². As cabeceiras de suas sub-bacias servem de limite entre o Ceará e os estados do Piauí, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, nasce na Serra da Joaninha na lagoa de Santiago em Tauá, quase na fronteira do Piauí e deságua no Oceano Atlântico no município de Fortim. É o maior curso de água do território cearense com 633 km de extensão.



Mas esse grande rio não tem apenas importância econômica para o estado, ele tem um relevante lado histórico-social , pois assim como na história do surgimento de quase todas as civilizações do mundo, os povoados tendem a surgir próximos aos rios ou ao mar e o rio Jaguaribe tem suas margens habitadas desde o inicio da história do Estado, pois possibilitava uma agricultura mais produtiva e um gado menos magro, facilitando a vida dos cearenses.

Antigamente era comum desmatar a vegetação da margem do rio (mata ciliar) para plantar naquela região, mas com o desmatamento excessivo da vegetação que tem como finalidade proteger o rio, mais sedimento (areia) entra do rio, que aos poucos vai sendo assoreado e se tornando cada vez mais raso. Devido a esse tipo de atitude, hoje em dia alguns trechos do rio não possuem mais que um metro de profundidade.

A Origem do município de Jaguaribara remonta ao final do Século XVII, quando se estabeleceram naquelas terras, algumas fazendas destinada a criação de gado. Em 1694, devido a forte resistência dos índios, donos originais da terra, os fazendeiros foram obrigados a se retirarem para as proximidades de Fortaleza, voltando anos mais tarde após vencida a resistência indígena.

O povoado de Santa Rosa constituiu-se de um desdobramento desta área, a qual foi transferida, em 1786 por doação de um dos herdeiros, para o patrimônio da Igreja católica. Elevada a condição de Vila, Santa Rosa foi inicialmente distrito do município de Frade, posteriormente denominado de Jaguaretama.

Em 31 de outubro de 1824, o povoado foi marcado pelo mais importante embate verificado no Ceará, entre as tropas imperiais e os componentes da Confederação do Equador que foi um movimento de caráter separatista e republicano do Nordeste. Deste embate, realizado as margens do Rio Jaguaribe, resultou a captura e o assassinato de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe (também conhecido como Tristão Alencar Araripe), revolucionário que também participou da Revolução Pernambucana (movimento emancipacionista de Pernambuco) em 1817.
Monumento em homenagem ao Tristão Gonçalves 

No ano de 1924, o Instituto Histórico do Ceará, ergueu no local denominado Alto dos Andrade, no Sítio Tapera, zona rural de Jaguaribara, um pequeno monumento ao herói. Supostamente seus restos mortais foram sepultados na capela do povoado, mas que hoje encontra-se submersa pelas águas do Castanhão.

Jaguaribara foi distrito de Jaguaretama, até março de 1957, quando foi promovida a município. O nome da cidade é uma referência a tribo tupi que habitava a região. Etimologicamente Jaguaribara significa Moradores do Rio das Onças. 

Os habitantes de Jaguaribara tiveram que sair de suas casas mas nada do que estava ali foi destruído e nesse período de estiagem, que o estado vem passando por um longo período de seca, partes da cidade podem ser vistas de forma ilhada entre a água do açude, como o monumento no Alto dos Andrades que foi construído em homenagem ao Tristão Gonçalves.

Visite as profundezas do Castanhão com a Mar do Ceará e vá conhecer essa história de perto!





Referencias: 
http://www.repositoriobib.ufc.br/000019/000019ad.pdf
http://sustentabilidade.sebrae.com.br/Sustentabilidade/Neg%C3%B3cios-de-sucesso/Piscis
http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/castanhao-comportas-serao-abertas-parcialmente-nesta-6%C2%AA-feira/
http://cearaemfotos.blogspot.com.br/2011/03/jaguaribara-velha-e-nova.html