quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Pesquisa científica descreve recife de corais em águas profundas do Ceará

por Marcelo Oliveira 

Mergulhador junto aos recifes do Canal do Uruaú. 

Pesquisa publicada recentemente descreveu a biodiversidade em recifes de corais localizados a cerca de 40 metros de profundidade no litoral leste do Ceará. O trabalho foi feito por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com a operadora de Mergulho Mar do Ceará. 

O artigo publicado na revista internacional Marine Biodiversity (Biodiversidade Marinha) com o título Mesophotic ecosystems: Coral and fish assemblages in a tropical marginal reef (northeastern Brazil) - Ecossistemas mesopóticos: Conjuntos de corais e peixes em um recife marginal tropical (Nordeste do Brasil) - descreveu os corais e peixes que vivem associados ao fundo do mar. Os pesquisadores descreveram os recifes através de mergulho autônomo no ponto conhecido como Canal do Uruaú (36m), localizado a cerca de 6 horas de barco a partir de Fortaleza. 

Na pesquisa foram feitas fotografias e vídeos para descrever a área possibilitando um maior conhecimento sobre o ambiente em águas profundas “Observamos uma biodiversidade significativa, principalmente de corais, tubarões, peixes e arraias. Os mergulhadores conhecem a área como um paraíso para as arraias”, aborda o instrutor de mergulho Marcus Davis, um dos autores do estudo. 

Os resultados são importantes, pois fornecem informação sobre a biodiversidade marinha de recifes de corais em águas profundas, os quais estão sendo descritos principalmente nos últimos 10 anos. Este tipo de recife tem sido encontrado em diversas áreas no mundo. No Brasil está em locais como perto da foz do rio Amazonas, litoral da Bahia, Atol das Rocas e o Arquipélago de Fernando de Noronha. 

“O litoral do Ceará possui uma vida marinha rica e pouco conhecida, principalmente em águas mais profundas. O Canal do Uruaú é uma área bastante interessante, porém infelizmente sem qualquer tipo de proteção ambiental, apesar de sua função para que as espécies possam se reproduzir. Seria bastante relevante criar uma unidade de conservação marinha na área ” aborda outro autor do estudo, o Professor Marcelo de Oliveira Soares do Labomar-UFC.

A pesquisa faz parte da rede do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) Ambientes Marinhos Tropicais, que visa analisar os recifes de corais no Nordeste do Brasil. 


Referência do Artigo
Soares, M.O.; Paiva, C.C.; Davis, M.; Carneiro, P.B.M.. Mesophotic ecosystems: Coral and fish assemblages in a tropical marginal reef (northeastern Brazil). Marine biodiversity, 2016. 

Fonte
Instituto de Ciências do Mar (Labomar), Universidade Federal do Ceará (3366.7010)

Fotos
Marcus Davis

Texto 
Marcelo Oliveira

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Cristais do Navio Amazônia: 35 anos no fundo do mar


Em agosto de 2016 realizamos o resgate das peças de cristal de um dos contêineres do navio Amazônia, naufragado há 35 anos na Enseada do Mucuripe em Fortaleza. 

O Amazônia levava bens produzidos na Zona Franca de Manaus com destino ao Rio de Janeiro. No entanto, ao largo de Fortaleza embarcação teve problemas e adernou na entrada do Porto do Mucuripe. Grande parte de sua carga derivou até as praias do Pirambú, outra afundou na Enseada.

Em 2012 o mergulhador Régis Freitas trouxe para nosso conhecimento a localização de um desses contêineres que carregava produtos de cristal. Começou então uma jornada burocrática para conseguir as devidas autorizações junto ao Estado Maior da Armada liderada pelo pesquisador Augusto César.

Com as autorizações em mão iniciamos o planejamento da operação. Em quatro dias resgatamos do fundo do mar cerca de setecentas peças. Os cristais trabalhados consistem em quatro modelos de petisqueira e fruteiras. Após 35 anos no fundo do mar algumas estão perfeitamente preservadas mas a maioria apresentam algum dano, mesmo mínimo mas que não tira o brilho e a beleza das peças que passaram décadas perdidas e enterradas no fundo da Enseada do Mucuripe e que graças a este trabalho fantástico pode ser apreciado pelo público!

As peças estão divididas em lotes
Primeiro Lote: peças em perfeito estado de conservação ou com algum dano mínimo, ou aquelas do modelo do qual existem menos exemplares .
Segundo Lote: peças com algum dano mínimo.
Terceiro Lote: peças com danos significativos ou com incrustações de seres marinhos.

Modelos
Petisqueira Redonda. Cerca de 28cm de diametro. Grande número de exemplares deste modelo. 1o, 2o e 3o lotes.
Petisqueira Ovalada. Cerca de 28cm x 21cm. Exemplar com o menor número de unidades. 1o lote.
Fruteira Redonda. Cerca de 20cm de diametro. Poucas unidades. 1o lote.
Fruteira Quadrada. Cerca de 21cm de lado, 27cm de diagonal. 1o lote.

Veja a matéria completa!

Gostaria de adquirir um peça com certificado de autenticidade? 
Entre em contato através do email mardoceara@gmail.com ou pelo 85 98844-5180 (oi/wzp).


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Onde está o ar respirado pelos peixes e outros organismos aquáticos?

Não é de hoje que sabemos da capacidade que os peixes têm de respirar debaixo d'água. Mas poucos de nós sabe da dificuldade que é respirar dessa maneira. Tudo isso vem da dificuldade de se obter oxigênio na água, pois só é possível captar o oxigênio que esteja dissolvido nela. E isso pode representar problemas para os animais que necessitam dele.

1. Bolhas de ar na água simbolizando os gases dissolvidos nela.
Para os organismos terrestres, o ar está repleto de oxigênio. A composição do ar atmosférico seco, sem umidade, é de 20,95% desse gás, disponível a uma pressão de 760 mmHg. A medida que subimos montanhas essa concentração de quase 21% permanece constante, mas a dificuldade de respirar em altitudes decorre da pressão parcial (pO2) que diminui, dificultando a troca gasosa nos pulmões, que ocorre de onde a pressão é maior para a menor, ou seja, do pulmão (pO2= 104 mmHg) para o sangue (pO2= 40 mmHg).
2. Esquema demonstrando as pressões parciais para ocorrência das trocas gasosas entre o pulmão e o vaso sanguíneo.
Na água, a solubilidade do oxigênio gasoso é de 34,1 ml /litro a 15°C. Isso quer dizer que em 1 litro de água a 15°C podem ser dissolvidos 34,1 ml de gás oxigênio. Isso parece razoável, mas esse valor pode variar conforme os fatores ambientais, entre eles a temperatura, a quantidade de sais e a pressão.

3. Solubilidade dos gases (O2, N2 e CO2) na água.
Quanto mais quente for um líquido que apresenta gás, menos esse gás fica retido, como facilmente podemos notar em um refrigerante quente, que as bolhas saem rapidamente, dando a ideia de que ele 'explodiu'. Quando está no copo, bolhas são vistas subindo nas paredes do copo, pois, a medida que o refrigerante esquenta, o gás perde solubilidade e vai saindo. A diferença é que no refrigerante o gás é o dióxido de carbono, o CO2.

4. Bolhas no refrigerante demosntrando a presença de gás (CO2) dissolvido, perdendo solubilidade a medida que esquenta.
Assim como a temperatura, o aumento da quantidade de sais na água diminui a solubilidade. Por isso na água salgada tem uma quantidade de gases dissolvidos menor que na água doce. Diferentemente da pressão que, quanto maior a pressão, maior a solubilidade do gás naquele meio. 

5. Esquema de experimento mostrando a interferência do aumento da pressão no aumento da solubilidade do gás na água.
Voltando ao refrigerante, quando ele ainda não foi aberto podemos notar que a garrafa PET está mais rígida que quando ele é aberto. Isso deve-se ao fato de, ao ser aberto, aquele 'tchisss' equilibra as pressões internas na garrafa com a do meio externo. Era essa pressão que mantinha parte do gás dissolvido. Tanto que depois de aberto, mesmo que refrigerado, ele fica 'sem gás'.

6. Garrafas PET fechadas mostrando-se mais rígidas devido a pressão interna ser alta. 
Ao nível do mar, a pressão é constante de 760 mmHg, o conhecido 1 ATM. A medida que mergulhamos essa pressão aumenta. Esse aumento ajuda na manutenção de uma quantidade de oxigênio nessas águas. Junto com a profundida, a temperatura normalmente cai, ajudando, também, na solubilidade do oxigênio nessas águas.

Nos corpos d'água a quantidade de gases dissolvido é equilibrada constantemente, pois há contato com o ar atmosférico e, até que a água esteja com quantidade máxima de gás dissolvido, chamada de saturada, ocorre intercâmbio entre os gases da água com os do ar. Mantendo esse equilíbrio.

O problema está quando há um aumento da temperatura da água. Comum em poças de água, piscinas na praia, pois a pequena quantidade de água exposta à luz do sol aquece, evapora uma parte e os sais ficam em uma quantidade menor de água. Ou seja, água quente e com mais sais. A solubilidade do oxigênio cai gradativamente. Além disso o consumo desse gás pelos organismos presentes ali ajuda na redução dele na água, podendo levar a morte daqueles organismos.

7. Bolhas de ar formadas na água pelo aumento da temperatura com consequente redução da solubilidade.
O mesmo ocorre em águas onde são descartados resíduos de refrigeração de motores, como em usinas nucleares. A água aquece, reduz a quantidade de oxigênio e alguns organismos sensíveis já morrem pela temperatura, outro morrem pela incapacidade de conseguir o oxigênio que necessita, pois seus órgão respiratórios só conseguem retirar o oxigênio da água.

Quando mergulhamos levamos em nossos cilindros uma reserva de ar para respirarmos durante o mergulho. Logo desenvolveremos tecnologia para retirar o oxigênio da água para usarmos em nossa respiração subaquática. Será? Bem, enquanto isso não ocorre, nos resolvemos com a carga dos cilindros, deixando essa capacidade para seus organismos capacitados naturalmente.


Referências:
Livro: Fisiologia Animal - Adaptação e Meio Ambiente. Knut Schmidt-Nielsen, 5 ed.;
            A Vida dos Vertebrados. F. Harvey Pough, 4 ed.
Imagens:
http://alunosonline.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/d9bb470261b63b5bbfd93a57e4b3cf1e.jpg
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAYfAAA/cap-20-equilibrio-acido-basico-hidro-eletrolitico
http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/07/carbonatacao-450x342.jpg
http://images.slideplayer.com.br/30/9522823/slides/slide_5.jpg
http://alunosonline.uol.com.br/upload/conteudo/images/pressao%20de%20um%20gas.jpg
http://lemanjue.com.br/wp-content/uploads/Por-que-nao-devo-consumir-refrigerantes-730x375.jpg
https://desafioint.files.wordpress.com/2014/07/o8exdc.jpg?w=584