quinta-feira, 12 de junho de 2014

A Pesca Artesanal e os Mergulhadores de Bitupitá no Extremo Norte do Litoral Cearense


Mergulhador de Nativo de Bitupitá.
Uma pequena e encantadora vila no extremo norte do litoral cearense. Assim pode ser descrita a última praia em nosso litoral antes da divisa com o Piauí. Bitupitá tem um povo simpático e que forma uma comunidade única de pescadores. O nome vem das línguas indígenas e faz referência ao vento que muda a paisagem composta pelo mar e dunas de areia branca.

Os currais em mar aberto não são
visíveis da praia.
Mas o que chama atenção aqui é a tradição pesqueira. Os tradicionais currais de pesca é que se destacam na Praia de Bitupitá. Alias, não se destacam pois não os vemos, eles estão distantes mar adentro. Os currais são armadilhas artesanais para a captura de peixes compostas por um cercado localizado normalmente na área entre marés, onde o peixe entra durante maré alta e fica aprisionado na baixa-mar. O que chama atenção em Bitupitá é a distância que esses currais ficam a partir da costa. Os mais distantes estão a cerca de 10 km e suas estacas estão fincadas entre 8 e 10m de profundidade.
Sua destreza na água é incrível.
O mergulho é o que torna essa pesca especial. Os pescadores tem que mergulhar para fazer a manutenção constante da estrutura e principalmente para recolher os peixes que ficam aprisionados como resultado da pesca. Durante o trabalho a tripulação do curral que pode conter até 12 homens se divide. Cada um parece saber exatamente a sua função: costurar a tela de aço que eventualmente se rompe, fincar e (incrivelmente) martelar as grande toras de madeira que compõem o cercado são partes da faina bem como capturar os peixes, é claro. 

Grandes cardumes entram no curral e são recolhidos com uma grande rede que é manuseada pelos pescadores-mergulhadores de dentro da água. Eles passam a rede para dentro do curral por uma abertura, em um dos compartimentos do curral desenrolam a rede e tangem os peixes para dentro. Repetem esse procedimento uma ou duas vezes e levam os peixeis que são soltos no chão do barco sem muito critério. Sardinhas, xaréu, serra e outros peixes de valor comercial renderam o bom trabalho. Todos os tripulantes mergulham e a maioria possui máscaras adequadas mas nenhum outro equipamento além disso. Outro fato curioso é que assim como Jacques Cousteau todos fumam e parecem não se importar com isso. O clima a bordo é amigável e reina o companheirismo.

Ao aproximar-se da praia a embarcação é tomada de assalto por atravessadores "selvagens" em busca do melhor negócio que é fechado com o Chefe do Curral. Todo o produto da pesca foi vendido para um só atravessador que fez o melhor lance.

Parte do trabalho é fixar as imensas estacas que compoem o cercado.

A tripulação avalia o rendimento do dia.
Um método de pesca único que vem passando de geração a geração mas que corre risco de extinção em virtude da falta de perspectiva da vida no mar. As dificuldades e o perigo são queixas constantes da categoria não só em Bitupitá, mas em todo o Estado. Preservar a pesca artesanal-sustentável é uma estratégia de preservação ambiental que deveria ser mais explorada. A lógica é simples: valorizando a pesca artesanal automaticamente combatemos a pesca predatória.


Pescador orgulhoso com o seu trabalho.
Texto e Fotos
Marcus Davis

Nenhum comentário:

Postar um comentário