Na praia, comentários entre os pescadores sobre afundamentos são constantes. A marinha os preparou, mostrando slides com imagens de submarinos e os instruindo a relatar qualquer encontro com essas embarcações.
Toinho sai sem medo. Uma vida inteira o ensinou a respeitar, mais do que temer, o mar do qual tira seu sustento. Hoje ele vai para um ponto de pesca chamado Pedra do Urubu, 30 graus ao norte de Fortaleza, um pesqueiro que sempre lhe rende bons sirigados e que anos depois viria a se chamar Pedra da Risca do Meio.
O submarino emerge e prossegue indiferente ao pobre jangadeiro petrificado que não consegue fazer nada a não ser observar o monstro azul passar por ele. Nunca tinha visto um “barcão” como esse. Mesmo com sua jangada balançando como uma rolha, Toinho equilibra-se indiferente às ondas observando enquanto o submarino segue para noroeste, costeando o litoral cearense.
Quando retorna a si, o pescador volta a puxar a ancora, arma a vela com impressionante rapidez até mesmo para um jangadeiro e segue para a terra. Não consegue pensar em outra coisa, apenas naquele monstro azul com dois canhões e dois periscópios.
Aos primeiros raios de sol do dia seguinte, aviões norte-americanos sediados em Fortaleza decolam da Base Aérea e iniciam as buscas pelo submarino inimigo.
Apenas dois dias depois, no dia 9 de junho, pilotos norte-americanos avistam um submarino ao largo de Fortaleza. O inimigo mergulha evitando o confronto direto. Os pilotos instintivamente iniciam o ataque com cargas de profundidade e logo avistam uma mancha de óleo e alguns destroços na água. Tinham afundado um submarino a poucos quilômetros da costa do Ceará. No entanto, mais tarde no mesmo dia outro avião naval americano avista um periscópio a algumas dezenas de quilômetros da batalha inicial, mas, ao iniciar o ataque, o submarino mergulha a grande profundidade e se esquiva do combate.
A mancha de óleo e os destroços avistados após o primeiro combate faziam parte de uma medida defensiva alemã: após serem atacados os submarinos lançavam destroços pelos tubos de torpedos para enganar as patrulhas aliadas. O submarino não afundou neste combate.
O inimigo continuava lá, incógnito sob as águas, à espera de um navio mercante, fácil de afundar e extremamente necessário para o esforço de guerra aliado. Enquanto Toinho foi pescar no dia seguinte, satisfeito por ter participado de alguma maneira daquela guerra que seria lembrada pra sempre.
Crônica fictícia baseada em fatos reais.
Fontes:
Diversos pescadores já afirmaram a existência de um submarino afundado entre as praias da Taíba e Pécem, a oeste de Fortaleza. No entanto a história nunca foi confirmada in loco ou em registros oficiais.
Subsídios para a História Marítima Brasileira, vol. XII; Ministério da Marinha – Serviço de Documentação Geral da Marinha; Imprensa Naval, Rio de Janeiro, 1953. Pág. 197. Trechos do livro:
- No dia 6 [de julho de 1943] um pescador às 12h, avistou um submarino na superfície, o qual quase abalroou uma embarcação; estava a 30`N de Fortaleza. O submarino tinha 2 canhões, 2 periscópios e estava pintado de azul.
superinteressante! Histórias da 2ª Guerra bem aqui, na terrinha...
ResponderExcluirJah foi verificado se de fato tem um submarino naufragado nesta posicao ?
ResponderExcluirabracos.
Na verdade não. No entanto, em registros oficiais não consta nenhum submarino afundado nesta posição. Os únicos afundados no litoral cearense e confirmados por registros oficiais foram o U-164 e o U-507.
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