terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Submarino e o Jangadeiro - Um possível encontro

(Imagem Ilustrativa)

6 de julho de 1943. 5:00 horas da manhã.

O sol começa a lançar seus primeiros raios e Toinho, um pescador de rosto marcado prepara sua jangada para mais um dia no mar. Ele aproveita o vento terral, abre a vela e, passando pelas obras do Porto do Mucuripe, encara o mar aberto. É junho e o vento está brando, porém uma ameaça diferente assombra os pescadores: os temidos submarinos de Hitler.

Na praia, comentários entre os pescadores sobre afundamentos são constantes. A marinha os preparou, mostrando slides com imagens de submarinos e os instruindo a relatar qualquer encontro com essas embarcações.

Toinho sai sem medo. Uma vida inteira o ensinou a respeitar, mais do que temer, o mar do qual tira seu sustento. Hoje ele vai para um ponto de pesca chamado Pedra do Urubu, 30 graus ao norte de Fortaleza, um pesqueiro que sempre lhe rende bons sirigados e que anos depois viria a se chamar Pedra da Risca do Meio.

O vento brando faz com que a viagem seja mais lenta que o normal e por volta das 9 horas Toinho larga a ancora artesanal, feita com uma pedra grande envolta por madeiras. Logo que coloca a primeira isca na água os peixes começam a morder e após poucos minutos vem o primeiro. Pelo peso da linha e pelo modo como o peixe luta contra seu destino, ele já sabe o tamanho e a espécie da presa. E logo vem o segundo e o terceiro e isso prossegue por algumas horas.

Perto do meio-dia, com o sol a pino, os peixes pararam de morder e sumiram. O pescador se sente sozinho pela primeira vez no dia, pois o sumiço dos peixes é sinal que algo estranho está para acontecer. Momentos depois ele começa a escutar um zumbido distante! Com o olhar treinado, procura ao redor em busca de um navio, mas nada vê. Rapidamente puxa a linha da água e corre para puxar a ancora: seja lá o que for ele quer sair de lá o mais depressa possível! O barulho está ficando mais intenso enquanto puxa o cabo da ancora. De repente, um monstro azul-marinho enorme projeta-se para fora d’água a apenas poucos metros da pequena embarcação enquanto Toinho observa paralisado! Logo sua pequena jangada começa a balançar com as ondas provocadas pelo submarino!

O submarino emerge e prossegue indiferente ao pobre jangadeiro petrificado que não consegue fazer nada a não ser observar o monstro azul passar por ele. Nunca tinha visto um “barcão” como esse. Mesmo com sua jangada balançando como uma rolha, Toinho equilibra-se indiferente às ondas observando enquanto o submarino segue para noroeste, costeando o litoral cearense.

Quando retorna a si, o pescador volta a puxar a ancora, arma a vela com impressionante rapidez até mesmo para um jangadeiro e segue para a terra. Não consegue pensar em outra coisa, apenas naquele monstro azul com dois canhões e dois periscópios.

A viagem é lenta e Toinho chega à praia no começo da noite. Imediatamente, antes mesmo de levar seus peixes pra casa, se dirige até o posto da marinha e informa o acontecido. É levado para a base e interrogado minuciosamente durante a noite.

Aos primeiros raios de sol do dia seguinte, aviões norte-americanos sediados em Fortaleza decolam da Base Aérea e iniciam as buscas pelo submarino inimigo.

Apenas dois dias depois, no dia 9 de junho, pilotos norte-americanos avistam um submarino ao largo de Fortaleza. O inimigo mergulha evitando o confronto direto. Os pilotos instintivamente iniciam o ataque com cargas de profundidade e logo avistam uma mancha de óleo e alguns destroços na água. Tinham afundado um submarino a poucos quilômetros da costa do Ceará. No entanto, mais tarde no mesmo dia outro avião naval americano avista um periscópio a algumas dezenas de quilômetros da batalha inicial, mas, ao iniciar o ataque, o submarino mergulha a grande profundidade e se esquiva do combate.


A mancha de óleo e os destroços avistados após o primeiro combate faziam parte de uma medida defensiva alemã: após serem atacados os submarinos lançavam destroços pelos tubos de torpedos para enganar as patrulhas aliadas. O submarino não afundou neste combate.

O inimigo continuava lá, incógnito sob as águas, à espera de um navio mercante, fácil de afundar e extremamente necessário para o esforço de guerra aliado. Enquanto Toinho foi pescar no dia seguinte, satisfeito por ter participado de alguma maneira daquela guerra que seria lembrada pra sempre.

Crônica fictícia baseada em fatos reais.

Fontes:

Diversos pescadores já afirmaram a existência de um submarino afundado entre as praias da Taíba e Pécem, a oeste de Fortaleza. No entanto a história nunca foi confirmada in loco ou em registros oficiais.


Subsídios para a História Marítima Brasileira, vol. XII; Ministério da Marinha – Serviço de Documentação Geral da Marinha; Imprensa Naval, Rio de Janeiro, 1953. Pág. 197. Trechos do livro:

- No dia 6 [de julho de 1943] um pescador às 12h, avistou um submarino na superfície, o qual quase abalroou uma embarcação; estava a 30`N de Fortaleza. O submarino tinha 2 canhões, 2 periscópios e estava pintado de azul.

- No dia 9 [de julho de 1943] foi afundado submarino por um avião naval americano na posição 03˚ 22` S - 48˚ 28` W [Ao plotar essas coordenadas em carta náutica obtemos um ponto quilômetros terra adentro. No entanto, alterando apenas o primeiro número da longitude obtemos um outro ponto no mar, poucos graus ao norte de Fortaleza o que corrobora a história do pescador e na qual foi baseada esta crônica]. Às 8h 20m, do mesmo dia, foi avistado periscópio por avião naval americano, na posição 03˚ 00` S - 48˚ 44` W [Ao plotar essas coordenadas em carta náutica obtemos ponto quilômetros terra adentro. No entanto, alterando apenas o primeiro número da longitude obtemos um ponto no mar poucos graus ao norte de Fortaleza]. Não foi atacado por ter mergulhado à grande profundidade.

(Coordenadas plotadas com as devidas correções)

Imagens:
Google Earth
Marcus Davis - Texto e Foto

3 comentários:

  1. superinteressante! Histórias da 2ª Guerra bem aqui, na terrinha...

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  2. Jah foi verificado se de fato tem um submarino naufragado nesta posicao ?
    abracos.

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  3. Na verdade não. No entanto, em registros oficiais não consta nenhum submarino afundado nesta posição. Os únicos afundados no litoral cearense e confirmados por registros oficiais foram o U-164 e o U-507.

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