Imagem da Ponte Metálica, 1908. Navio da Ponte no detalhe. |
Artigo publicado em 2006 no BrasilMergulho.com.br
Fortaleza já teve diversos portos, onde dentre estes, destacamos o antigo “Poço da Draga” que serviu até 1906, neste ano foi inaugurada a Ponte Metálica que foi utilizada para o desembarque de cargas e passageiros até 1947. Esta última foi construída devido à crescente necessidade de um porto que permitisse a aproximação de navios maiores. Porém, foi desativada após alguns anos devido ao assoreamento para dar lugar ao atual Porto do Mucuripe.
Nas proximidades da Ponte Metálica é possível avistar os destroços do cargueiro Mara Hope, encalhado na região há 26 anos. Mas o que não se pode ver, pelo menos acima da linha do mar, são outros dois naufrágios. Um deles, batizado como Navio Encantado (também conhecido como Draga) está a 500m da Ponte Metálica. Embora mergulhe há algum tempo no local, eu só soube da sua existência há um ano, e ele ainda permanece não identificado; o outro, para a minha surpresa estava literalmente sob meus olhos o tempo todo!
Detalhe do casco |
Conversando com pescadores e mergulhadores da região, soube da existência de uma hélice e algumas ferragens junto à Ponte Metálica, a uns vinte metros da praia. Fui diversas vezes mergulhar lá, porém, a água nunca ajudava. A visibilidade é quase sempre zero devido à proximidade com a praia e o movimento constante das ondas. Ocasionalmente, a visibilidade chega a dois, três metros. Por estes motivos, mergulhar no Navio da Ponte é um pouco complicado e deve ser feito na maré cheia.
Entre março e julho o vento intenso dá uma trégua e a água limpa chega até a costa. Costuma-se alcançar até cinco metros de visibilidade em alguns raros dias. Mais raros ainda, são os dias como hoje em que a visibilidade chegou a 8 metros na beira da praia!
Mergulhador entre os cabeços de amarração |
Eu e Thadeu fomos até a Ponte Metálica para praticar mergulho livre, apenas para nos mantermos molhados. Quando chegamos e vimos a cor da água, não acreditamos! A água estava azul! Não tinha levado a câmera fotográfica e então voltei em casa para pegá-la, pois não podia perder essa oportunidade! No caminho meu receio era que água sujasse nos vinte minutos que levei até retornar à ponte.
Ao voltarmos encontramos um dos piratas locais. Ele vinha trazendo uma escotilha de bronze que havia acabado de retirar do naufrágio em que pretendíamos mergulhar. Ele está sempre no Mara Hope e em outros naufrágios da costa retirando seus metais de valor, como cobre e bronze. Conversando com ele, me disse que uma vez achou até um “Buda” de bronze, pesando vinte e oito quilos, entre o Mara Hope e o Navio Encantado. Quando questionei sobre a veracidade da informação ele disse: “É rapaz! Um Buda! Aquele gordinho sentado...!”.
Hélice do naufrágio |
Depois fomos para a água explorar o Navio da Ponte. È um navio de ferro, com uns cinqüenta metros de comprimento e uns quatros ou cinco de largura. Está com a proa virada para a praia e a Ponte Metálica, fazendo um ângulo de cerca de 60 graus. O naufrágio está completamente desmantelado e repousa sobre formações coralíneas a estibordo.
Iniciamos a exploração pela popa onde ainda se encontram o hélice, que foi claramente serrado de seu eixo, e as estruturas do leme. O eixo do hélice ainda está inteiro e segue em direção à proa. Os restos do casco estão dos dois lados, mas estrutura do que seria o fundo ainda está parcialmente inteira. Seguindo o eixo encontramos estruturas que parecem ser do antigo motor. Mais a frente, por bombordo, chegamos a umas engrenagens que parecem ser o cabrestante (maquinário de suspender a âncora). E próximo a ele, ainda por bombordo, encontramos os cabeços de amarração. Sua proa ainda pode ser identificada, mas está bem corroída.
Cabrestante |
Perto da popa, a quinze metros do naufrágio, por bombordo, está uma estrutura cilíndrica de uns quatro metros de comprimento por três de diâmetro que se encontra na posição vertical em relação ao fundo, aflorando na maré baixa. Dentro dessa grande estrutura estão três outras estruturas cilíndricas de um metro de diâmetro cada.
Cruzamos com poucos peixes durante os mergulhos. Apenas alguns ‘cirurgiões’ e um ‘frade’. Algumas lagostinhas também moram por lá, mas fora isso, parece um deserto comparado aos mergulhos no Naufrágio dos Remédios e no Macau.
De onde será esse navio? Qual será a sua nacionalidade? Quando e por que naufragou? Teria encalhado nos recifes fruto de uma fundeação mal feita? Qual era sua carga?
Texto e Fotos
Marcus Davis
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