Um pirambu preso a restos de uma rede de pesca. Naufrágio Macau, Aracati, CE. |
Lagosta presa no Remédios. |
Tornou-se corriqueiro avistarmos animais marinhos presos em artefatos de pesca abandonados no fundo do mar. Tal fato é conhecido no meio científico como "pesca fantasma" pois esses artefatos depois de descartados continuam pescando sem que o produto da pesca seja consumido ou comercializado. Esses equipamentos de pesca perdidos ou descartados são responsáveis por cerca de 10% dos resíduos sólidos que poluem os mares. No Golfo do México estima-se que são perdidos por ano U$ 250 milhões em lagostas em decorrência da pesca fantasma.
No Brasil ainda não temos dados precisos sobre o estrago da pesca fantasma. Universidades de todo o país despertaram a alguns anos para esta ameaça, inclusive a Universidade Federal do Ceará onde alunos e professores do curso de Engenharia de Pesca estão estudando o fenômeno.
Caranguejo morto na rede, Macau |
Os principais agentes causadores são restos de redes e manzuás (armadilhas para pesca da lagosta) que são inutilizados por embarcações ou animais de grande porte sendo assim perdidos ou descartados pelos próprios pescadores. Os manzuás são especificamente importantes pois a vida útil de sua estrutura de madeira é bem curta e anualmente são confeccionadas novas armadilhas para temporada de pesca. Ao visitarmos as praias do litoral cearense e conversarmos com pescadores notamos um certo desleixo entre eles com os perigos da pesca fantasma. É como se acreditassem que ao serem descartados no mar e sumirem de nossas vistas esses materiais desaparecem, mas não é bem assim.
Mergulhadores livram lagosta no Macau |
A pesca fantasma infelizmente tem sido observada com freqüência por mergulhadores no fundo dos nossos mares. Os naufrágios por serem grandes estruturas com diversos pontos de enrosco tornam-se verdadeiros emaranhados de restos de redes e linhas de pesca tornando mortais para espécies marinhas indefesas e exigindo mais atenção dos mergulhadores para estes mesmo não se engancharem. No último mês presenciamos três ocorrências de pesca fantasma nos naufrágios Remédios (Uruaú) e Macau (Aracati). Em um caso uma lagosta presa a linha de pesca e simultaneamente fisgada em um anzol que estava preso a uma chumbada, ela não teria chance se não fosse pelos mergulhadores que a salvaram. Em outro episódio um caranguejo já morto fazia companhia a um pirambu agonizante que tentava desesperadamente se soltar.
Manzuá descartado no Remédios |
Uma solução preventiva seria substituir os materiais sintéticos por outros biodegradáveis diminuindo assim a vida útil desses equipamentos depois de descartados. Outra remediatíva seria obrigar os pescadores identificarem seus equipamentos e multa-los em caso de perda ou descarte, medida que requer fiscalização intensa e efetiva, algo difícil de acontecer. Uma terceira solução seria a conscientização dos pescadores através de amostras fotográficas nas colônias de pesca, talvez a mais viável entre elas.
Mergulhador retira linha de pesca da Pedra da Risca do Meio |
Se não fosse por nós, mergulhadores recreativos, dificilmente teriamos informações sobre esses acontecimentos e pelo menos alguns animais nós conseguimos evitar que sejam capturados pela pesca fantasma. Para contribuirmos ainda mais essas informações serão utilizadas para a confecção de artigos científicos sobre o assunto. Mais uma vez o mergulho em prol da preservação ambiental!
Texto e fotos
Marcus Davis
Vídeos
George Almedia e Marcus Davis
Fontes
CHAVES, ROBERT; EXTRAVIO DE PETRECHOS E CONDIÇÕES PARA OCORRÊNCIA DE PESCAFANTASMA NO LITORAL NORTE DE SANTA CATARINA E SUL DO PARANÁ; UFPR 2009.
Poluição e Pesca Fantasma contribuem para degradação do ambiente marinho. 10/06/2009 - http://www.agsolve.com.br
Pesca-fantasma nos Mares, Ciência Hoje, 2009. - http://www.globalgarbage.org
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