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Navio Seawind onde marinheiros búlgaros ficaram meses aprisionados |
Eram sete e meia da manhã de quinta-feira quando encontrei com os repórteres da TV Cidade de Fortaleza em frente a Praia dos Botes, na Beiramar. Fomos contatados um dia antes para fazer a tradução e viabilizarmos seu transporte até o navio Seawind que está ancorado a 2 milhas náuticas da costa e onde haviam alguns marinheiros supostamente aprisionados por algum questão trabalhista. O navio tem bandeira panamenha mas sua tripulação era composta de marinheiros búlgaros que estavam ancorados havia três meses nos limites da Enseada do Mucuripe, despercebidos pela maioria dos fortalezenses.
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Aproximação em mar agitado |
Acompanhado de um cinegrafista, uma repórter e o mestre da embarcação navegamos em direção ao navio. No caminho, contatamos por celular o Capitão Nicolai Simeonov que já nos aguardava. Ao nos aproximarmos do navio o mar se mostrou um pouco agitado o que dificultou o embarque dos jornalistas. Fomos bem recebidos pela tripulação que mostrava um abatimento aparente. Após todas as apresentações Cap. Nicolai me explicou em inglês todo o "perrengue" que passou junto com sua tripulação.
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Dispensa quase vazia do Seawind |
Todos estavam sem receber seus salários a mais de um ano, disse ele, em uma jornada que começara meses antes quando saíram de Espírito Santo onde passaram dois meses a espera de uma autorização para seguir sua viagem com uma carga de 40 toneladas de granito. Durante esse tempo 'cracas' cresceram nas comportas que puxam a água do mar necessária para refrigerar os motores do navio e isso fez com que suas máquinas superaquecessem, disse o capitão. Chegamos ao porto de Salvador onde passamos sete dias a espera de suprimentos onde mais algas e cracas se cresceram nos compartimentos de refrigeração, nos contou. Depois desse tempo seguiram com destino a Cabo Verde e na metade do caminho os problemas começaram. Foram nove tentativas de reparar os danos até desistirem e ancorarem no Porto do Mucuripe. Nesse período ficaram sem comida e sem água durante dois dias em alto mar e mais três dias após ancorarem.
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A média de idade dos tripulantes
é 60 anos |
Nesses dias bebemos água da chuva e pescamos para nos alimentarmos, nos disse Cap. Nicolai. Assim que chegamos quatro dos 13 tripulantes desembarcaram imediatamente e aceitaram a proposta de abdicar de seus salários em troca de uma passagem de volta para Bulgária. Ficaram nove, três dos quais conseguiram extradição devido a problemas de saúde. Enquanto estamos aqui não temos nenhuma cobertura médica, disse Nicolai aparentemente o único que falava inglês. O Capitão Simeonov agradeceu ainda ao presidente do Porto do Mucuripe pelo auxílio e solidariedade prestados durante esses três meses.
Nicolai também nos contou que o óleo diesel necessário para os geradores iria acabar naquele mesmo dia e que a partir daí eles ficariam completamente sem energia elétrica e que o navio se tornaria um perigo a navegação.
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Repórter sensibilizada com a situação
dos marinheiros |
Felizmente, no mesmo dia também era julgada sua causa trabalhista em um Tribunal do Trabalho em Fortaleza. A decisão favorável aos marinheiros apreendia a embarcação como garantia do pagamento de seus salários. Nicolai e sua tripulação pôde voltar em paz para a Bulgária para encontrar suas famílias. Dos seis tripulantes, quatro foram resgatados na noite de sexta-feira pela polícia federal. Dois deles permanecem com mais quatro marinheiros substitutos enviados pelo sindicato da categoria.
Curiosidade
Sensibilizada pelas condições de penúria em que se encontravam os marinheiros a repórter da TV Cidade fez uma feira generosa onde concedeu aos seis tripulantes um desejo para cada. Cigarros, vodka e chocolate foram os mais pedidos! Os suprimentos foram levados até a embarcação ainda na quinta-feira pela manhã pelo nosso staff Thiago "Pingo" Magalhães! :)
Texto e Fotos
Marcus Davis