quarta-feira, 28 de maio de 2014

Pesquisa: Gestão Participativa no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio



AJUDE A CONSERVAR NOSSO PARQUE MARINHO! 

O que é?
A gestão participativa ocorre quando a sociedade é convidada a colaborar e interferir no processo de gestão de um bem público. Trata-se de um estudo científico sobre o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, unidade de conservação totalmente marinha, situada em Fortaleza, Ceará. Este estudo faz parte de uma linha de pesquisa do Programa de Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais, da Universidade Federal do Ceará, sob a orientação do Prof. Dr. Marcelo Soares. 

Quem pode participar?
Podem responder ao questionário mergulhadores que já tenham visitado o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, de modo a ter opinião formada sobre importância e melhorias para o Parque, assim como demais visitantes do Parque interessados no assunto. A participação do respondente é anônima e apresenta fins unicamente científicos. 

O que eu tenho que fazer?
Uma das etapas desse estudo consta da coleta de opiniões dos mergulhadores e pescadores sobre a importância do ecossistema marinho e, mais especificamente, do Parque da Pedra da Risca do Meio, assim como opiniões sobre a região do Parque e formas de melhoria em sua gestão. De modo a sistematizar a coleta das opiniões, foi adaptado um roteiro com perguntas estruturadas em um questionário que deve ser respondido pelos participantes (disponível Google Docs através do link: https://docs.google.com/forms/d/1tFE5ENajx4SmGP3Yi3oraPSgMNCm7T5dtsreGX-k8ZY/viewform?c=0&w=1). 

Quem está participando?
Este estudo conta com a colaboração das operadoras de mergulho, em destaque o Mar do Ceará. Colabore você também!"

Clique em Pesquisa Gestão Participativa do PEMPRM para acessar o questionário (ou no link acima).



Atenciosamente,
Aline Batista
Mestranda em Ciências Marinhas Tropicais - Labomar / UFC

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Lições de um Curso de Mergulho

Paula Christiny



Muitos imaginam que mergulhar é estar em um barco, em um dia bonito, depois submergir e ver algumas das coisas mais fantásticas que a natureza pode oferecer. Porém existem coisas que uma percepção mais atenta pode apreender durante esses momentos, situações comuns nos mergulhos que podem ser valiosas fontes de sabedoria no nosso cotidiano, sejam em casos pessoais ou profissionais. Todos sabem que devemos guardar as lições que aprendemos durante a vida e nos mergulhos podemos aprender nos divertindo. Entrar no mar não é chegar, cair e pronto, temos que ficar atentos aos ensinamentos que cada situação nos dá. Essas breves palavras trarão lições que deverão ser aprendidas e que vão lhe ajudar a ser uma pessoa melhor. 

1. Seja cortês
Comunique e se relacione com outros mergulhadores com cortesia e educação. Tratar bem as pessoas é importante em qualquer lugar. Se achar algo de outro mergulhador devolva, você deve lutar pelo o que seu, se você perdesse algo ia querer ter de volta. Caso não consiga resolver alguma questão dentro d água vá para a superfície e espere a solução, preocupações secundárias não devem atrapalhar seu mergulho, elas podem por você e terceiros em risco. 

2. Cuide-se
Seja um mergulhador responsável, faça exames médicos regulares. Evite problemas como sedentarismo, obesidade, stress, etc. Diminua a tensão e evite hábitos prejudiciais como fumar e ingestão de álcool. Procure se manter saudável, tenha uma boa dieta, faça exercícios, descanse bem. Cuide-se dentro e fora d’água, você deve isto para você, sua família, seus amigos e sua dupla. Tais cuidados farão de você uma pessoa e um mergulhador melhor. 

3. Estude, seja disciplinado
Mantenha em dias suas habilidades e aptidão específicas ao mergulho. Leia sobre o tema e treine regularmente suas habilidades, fazendo cursos ou nadando com uma máscara, snorkel e nadadeiras. Busque se desenvolver respeitando seus limites, senão dará tudo errado. Não adianta forçar, mesmo querendo sempre ir mais fundo, temos que nos preparar para isso. Com o tempo e seu esforço a vontade de aprender pode ir mais longe e mais fundo. Isso se estende para fora do mundo aquático, aprofunde-se e prepare-se para conquistar novos territórios. 

4. Gerencie o stress
No mar as coisas podem dar errado por diversos motivos. Se você não mantiver a calma, você pode entrar em pânico. Então muita calma nessa hora! O mesmo vale para a vida, diante das maiores decepções ou piores situações, atitudes impulsivas ou desesperadas só pioram as coisas. 

5. Faça o check-list 
O mergulho pede que você mantenha seu equipamento de mergulho em boas condições e em bom funcionamento. Siga os procedimentos adequados tanto montagem, checagem e manutenção. Esteja atento às orientações do seu instrutor ou dive master, se você confia nele (é bom que confie) deve saber que o que ele fala tem um por quê. Os hábitos da checagem fora d’água contribuem para uma vida sem surpresas e constrangimentos. 

6. O negócio é entre você e o sua dupla
Sua dupla pode salvar você de um grande perigo ou vice-versa. Mesmo que não haja amizade, é preciso que exista companheirismo, respeito e sintonia. No seco é a mesma coisa, não se joga sozinho. Saber trabalhar em equipe é fundamental. Esteja disposto a ajudar e ser ajudado. 

7. Mantenha sua flutuabilidade
Uma das primeiras lições que aprendemos no curso básico é respirar adequadamente. O mergulhador com fome de ar exige uma demanda maior e fica em um sobe e desce que o desestabiliza deixando de aproveitar a descida. Evitar a combinação de respiração pesada, curta e rápida diminui seu tempo e qualidade no fundo. Respirar direito tanto na água quanto na vida, diminui a tensão e diminui a ansiedade. 

8. Esteja atento às oportunidades 
Para conseguir aquela viagem perfeita, as fotos ideais, são necessárias inteligência, paciência e perseverança. É preciso saber a importância de cada momento e como agir. Na vida também temos que estar atentos às oportunidades que aparecem. 

9. Seja sincero com seus limites
Não minta nos questionários médicos, nem para os do instrutor e não minta sobre suas limitações, mesmo que momentâneas. O mergulho é uma atividade de risco e somente pessoas em condições devem praticar. O mergulhador dever estar apto a enfrentar condições diferentes daquelas que está habituado. Ao esconder sua verdadeira capacidade física você corre o risco de estragar a sua saída de mergulho ou a de outras pessoas que estão junto a você. Ainda pior, você pode entrar para as estatísticas de acidentes e perdas de vida causadas pela falta de honestidade sobre o seu estado de saúde. Em qualquer momento vale aquele clichê: com saúde não se brinca. 

10. Aproveite o que a natureza oferece para você
Algumas vezes esperamos condições perfeitas, mas encontramos pouca visibilidade e ainda correnteza. Geralmente fechamos a cara e começamos a reclamar. Temos que lembrar que temos oportunidade de dar a volta nas adversidades e aproveitar o que temos. No dia-a-dia é assim, se reclamássemos menos e tentássemos ver o lado bom das coisas seríamos mais felizes. 


Fontes: 
É difícil falar em fontes ou referências, isso que está escrito aqui veio por meio de algumas leituras, conversas, vídeos e, principalmente, observações ao longo do tempo e experiência. Como eu havia dito: basta ficar atento as lições.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Litoral e suas Diferentes Percepções ao Longo do Tempo

Por Paula Christiny

A visão que possuímos do litoral nem sempre foi a mesma. Nossa relação com o mar e a praia foi se transformando por conta de fatores sociais econômicos e culturais de acordo com a dinâmica da sociedade. Para que possamos entender um pouco sobre tais imagens, é preciso conhecer um pouco sobre mulheres e homens do passado tomando um pouco de seus olhares e emoções. Dessa forma, poderemos saber como convivíamos à beira do mar e oceanos ao longo dos séculos.

Construção Grega. Fonte: http://filoparanavai.blogspot.com.br/
A Antiguidade Clássica
Começou-se a se escrever sobre a relação dos homens com o mar durante a Antiguidade Clássica. Na Grécia Antiga, os contatos com o mar se deram por causa sua geografia composta pelo continente e várias ilhas. Seu terreno acidentado com poucas terras cultiváveis levava a formação de cidades próximas ao mar, onde se pudessem construir portos, que eram pontos de comércio e comunicação. Além da navegação, a natação também era prática comum entre os gregos, o nado estava ligado à higiene, limpeza e virilidade. Tais costumes simbólicos e sociais contribuíram para o desenvolvimento dessa civilização.

Pintura representa invasão bárbara em Roma, Heinrich Leutemann.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
Na sociedade romana a natação no mar tinha ligação com as atividades físicas e o culto ao corpo, exemplificado no boxeador Tisander, que usava a natação nos seus treinamentos. Entretanto, a queda do Império Romano, em 476 d. C. causada pela invasão bárbara por via marítima, substituiu a visão positiva da praia, por uma de medo, assombro e proibição.

Idade Média
Pintura de um mapa medieval na 
National Library of Sweden. 
Fonte: www.seuhistory.com

A Idade Média trouxe mudanças nas mentalidades que passaram a reger seus atos pelas práticas religiosas. Com a influência católica sobre os costumes, o banho de mar passou a ser não considerado uma atitude de bom cristão. Esse período marca a rejeição do homem pelo mar.
Acreditava-se que o sal da água abriria poros onde penetrariam as impurezas dos pecados do mar, morada dos poderes do inferno. Os homens impuros eram castigados com o arremesso dos seus corpos nas águas e a presença dos pescadores era temida, pois eles portariam as mazelas dos oceanos.
A Bíblia trazia reforço a esses temores, segundo seus textos o mar seria cheio de monstros e tormentas, morada do tenebroso Leviatã, personificação do demônio. Aparece também, a figura do dilúvio, massa oceânica que seria um meio de punição de Deus. Em virtude de tais visões construídas, a ocupação do litoral foi temida, poucos se aventuraram a estar próximo da praia.

Renascimento
Tela Santa Maria at Anchor de 
Andries van Eertvelt 1492. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/

A necessidade de novos mercados consumidores, causada pela emergência do regime mercantilista, abre espaço para a expansão marítima e colonial. O aumento do consumo europeu empurrou o homem para o mar em busca de especiarias e novas rotas comerciais.
Nessa época, novos conhecimentos científicos foram adquiridos: a forma dos oceanos foi melhor conhecida, a Lei de Gravitação Universal permitiu a explicação de fenômenos marítimos. Popularizaram-se instrumentos como a bússola e astrolábio que facilitaram a navegação.

Séculos XVIII e XIV
No século XIII surge a Teologia Natural da França e com ela uma nova forma de se apreciar o mar. Deus deixa de ter uma imagem de punidor, para um que na sua imensa bondade dá aos mortais as praias e os oceanos. O que antes era inacessível se tornou objeto de contemplação da natureza.
Tela de P S Kroyer, 
A Praia ao Pôr-do-sol. 
Fonte: sociedadechesterton.com
Seguindo essa tendência, o discurso médico mostra os benefícios da água salgada para a saúde. A praia passa a ser frequentada pelas suas qualidades terapêuticas. São inauguradas estâncias balneares pelo litoral europeu, sendo a estada no litoral uma prática de distinção das elites higienizada e saudável, num momento em que o capitalismo muda o sistema de estratificação social. O que se pode ver é a praia era um ponto fuga das elites que queriam sair do meio urbano quer eram feio sujo e pobre.
Após a segunda metade do século XVIII, as classes sociais mais elevadas experimentaram novas sensações com a natureza marítima, que passa a ser mais próxima do homem. No século XIX, o banho de mar é tido pela medicina como forma de sanar males do corpo e da mente.

Século XX

O poder do biquini em 1950. Fonte: novomilenio.inf.br

Nas primeiras décadas do século XX surge a ideia de praia lúdica. O litoral passa a ser visto como um espaço de convívio, alegria e lazer, assumindo o caráter de espaço público.
A visita à beira do mar é feita para proporcionar prazer, ela valoriza os elementos quentes da natureza, o que faz se frequentar a praia nos horários mais quentes. Passa-se a despir mais os corpos e valorizar as sensações corporais, exigindo-se uma exposição direta ao sol. O que importa é olhar e ser olhado. O bronzeado passa a ser um símbolo de distinção social. O banho de sol passa a ser mais importante que o banho de mar.

Brasil
Nau de Pedro Álvares Cabral no Livro das Armadas, 
Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa. Fonte: wikipedia.org

Os sambaquis no litoral brasileiro mostram que povos ocuparam o ambiente costeiro. Mas é a partir do período colonial que e efetiva a ocupação.
O litoral do Brasil foi ocupado de forma descontínua com núcleos pontuais de assentamentos: Zona da Mata Nordestina, Recôncavo Baiano, Litoral Fluminense e Paulista. Ela se deu em virtude de atividades portuárias que eram suporte ao modelo econômico primário exportador. Esse modelo de ocupação perdurou até o século XVIII quando o bandeirismo, a expansão pastoril do Nordeste e avanços militares no Sul levaram a urbanização Brasil adentro.
Basicamente na zona costeira, os brasileiros foram além da pesca rudimentar próxima ao litoral e a navegação de cabotagem. Na costa, as faixas de praia eram utilizadas para atividades pesqueiras, portuárias e despejo de lixo. Tal situação permaneceu até o início do século XX.


Os brasileiros vão a praia. Fonte: novomilenio.inf.br
A mudança desse pensamento começou quando se passou a associar o mar aos termos medicinais. Nas primeiras décadas do século XIX, a praia se transforma em uma espécie de hospital. Era um modelo nacional dos padrões e comportamentos europeus de medicina higienista e afastamento das camadas populares.
Posteriormente até se chegar ao século XX, obras urbanísticas e políticas sanitárias melhoraram bastante as condições de vida na cidade. Com o disciplinamento dos espaços urbanos a zona litorânea passa a ser área residencial e de lazer. A partir disso, o mar passa a ser local de esportes aquáticos, lazer, caminhadas e banhos de mar. Nessa época, aparecem as ainda hoje comuns casas de veraneio.

Fortaleza

Forte de São Sebastião.
Fonte: http://forttalleza.blogspot.com.br/
As visões acerca do litoral de Fortaleza mudaram ao longo de sua história. Desde sua posição como um dos primeiros pontos de ocupação até a conquista do status de uma das capitais mais visitadas por turistas do mundo.
O movimento expansionista de conquista de Portugal exigiu a ocupação do litoral brasileiro, o português Pero Coelho iniciou a construção de fortificações ao longo do litoral do que viria a ser Fortaleza, na barra do rio Ceará foi erguido o forte de São Thiago. Ao lado uma povoação conhecida como Nova Lisboa, Lusitânia sendo o primeiro povoado a se estabelecer no litoral fortalezense pós-descobrimento. Porém o povoamento não teve êxito esperado e ocorreu o abandono em 1605 por uma de série de fatores, tais como a falta de recursos, ataques dos indígenas, dificuldades de comunicação com a capitania da Paraíba.
Em 1612 é erguida outra fortificação, por Martim Soares Moreno, esta fortificação foi fundamental no estabelecimento do domínio português na região. Nesse período, Moreno protegeu a costa contra piratas, apaziguou também desacordos entre a população, estimulou a agricultura e a pecuária e ampliou o Forte São Thiago e o batizou de Forte de São Sebastião.
No ano de 1637, a região foi invadida pelos holandeses, que tomaram o Forte São Sebastião, a expedição foi dizimada pelos ataques indígenas. Os holandeses voltaram em 1649, numa expedição de Matias Beck, se instalaram nas proximidades do rio Pajeú, onde construíram o Forte Schoonenborch. Em 1654, o Schoonenborch foi tomado por portugueses, chefiados por Álvaro de Azevedo Barreto, e o forte foi renomeado de Forte de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção no espaço que corresponde atualmente à cidade de Fortaleza.
Após esses eventos não ocorreram mudanças significativas na utilização do litoral de Fortaleza por causa da supremacia econômica do sertão, produtor e detentor das riquezas no Ceará. A mudança desse cenário veio com a construção do porto para a exportação de algodão.
Ainda se associava mar à morte, via-se apenas pobreza e lixo nas praias, que era espaço de circulação de vadios e desocupados. Além disso, local propício às mazelas vindas do mar.
Com a construção do porto, a cidade passou a ser um dos pontos de litoral abertos para o mar. Os meados do século XIX trouxeram para zona litorânea de Fortaleza a valorização gerada pelo porto e das atividades portuárias como armazéns, escritórios e alfândega. Além da exportação de mercadoria, as classes abastadas absorveram ideias e modos ocidentais, através das notícias vindas em navios europeus. A praia passou a ser território de desfrute sendo utilizada para fins de lazer e banhos de mar (predominantemente masculinos), serenatas e passeios de famílias.
Como marcos importantes temos em 1963 a construção da Avenida Beira Mar, e entre 1979-82, a constituição do bairro do Meireles e a instalação de vários clubes sociais no litoral nos anos 50 e 60. Com as obras seguintes vieram as construções dos calçadões da Praia de Iracema, do Futuro e da Leste-Oeste, isso nos anos 80 o que contribuem para a imagem do litoral como zona de lazer.

Fortaleza dos turistas. Fonte: www.skyscrapercity.com


Hoje Fortaleza é conhecida pelo seu enorme potencial turístico, sendo uma das cidades mais visitadas do mundo, por aqueles que admiram seu litoral. Ela atrai milhares de turistas para as suas praias e movimenta de forma significativa a economia e a oferta de empregos na cidade.

domingo, 11 de maio de 2014

O Avanço do Mar no Litoral Cearense

Por Paula Christiny.

Parajuru. Fonte: Diário do Nordeste.

Um sonho comum à muitas pessoas é uma casa de frente para o mar. O que foi a realização de um antigo desejo, para muitos, atualmente, é motivo de temeridade no litoral cearense. Isso se deve à destruição causada pelo avanço do mar em alguns pontos do Estado. Diante dessa ameaça, que se apresenta cada vez persistente, levanta-se a questão sobre o que levou a constituição desse cenário. 

O avanço do mar não é um fenômeno exclusivo do litoral do Ceará, sendo registrado em 17 Estados brasileiros banhados pelo oceano Atlântico. Em alguns locais esse aumento acontece em velocidades e intensidades não naturais, diminuindo de maneira significativa a faixa de praia, causando mudanças na geografia do litoral. Com o quadro que se apresenta haverá alterações ainda maiores nos próximos anos. 

É importante entender que o processo de erosão no litoral é um complexo, resultado da junção de fatores naturais e intervenções humanas. Em períodos onde a incidência de ventos é mais forte, as marés estão mais altas e há mudanças de temperatura é que se têm as condições favoráveis para esses fenômenos. Une-se isso à erosão naturalmente provocada pela disputa por espaço entre o mar e as cidades do litoral e à ocupação urbana desordenada. 

O que se vê no Estado do Ceará, é que ao longo dos anos a ocupação do litoral foi feita sem o devido ordenamento, com intensa ocupação urbana da linha de praia por edificações privadas. Como resultado da especulação imobiliária e desrespeito às leis da natureza, se têm efeitos catastróficos. Construções à beira-mar, casas, hotéis e pousadas são atacadas ferozmente pela força do mar, que chega a consumir até calçamentos e pavimentos. Com isso, todo o turismo da orla marítima é prejudicado pela diminuição do número de frequentadores das praias. No geral o que se vê é um cenário de desolação e abandono. 
Mapa da erosão no litoral.  Fonte: Diário do Nordeste. 

O litoral precisa do uso moderado de seus componentes. Não se pode construir ao longo de uma faixa de 30m, é a definição do espaço de praia contados a partir da maré alta. A legislação existe, o que falta a ser respeitada. A Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, trata das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. No Art. 54 ela tipifica como crime punível com pena privativa de liberdade reclusional prática que dificulte ou impeça o uso público das praias.

Antigos moradores são saudosistas sobre o que eram as praias de antigamente. Pescadores estão desenganados, pois veem diariamente a alteração dos seus modos de viver, remoções e os prejuízos sofridos a cada alta da maré. O que se pode ver é que essa questão, além de um fenômeno natural, implica em questões econômicas e sociais. Outras consequências desse avanço, não muito comentada pela mídia, é a alteração dos ecossistemas costeiros. Os manguezais podem ser afogados durante uma elevação do mar, alterando a dinâmica desses ecossistemas e influindo negativamente no ciclo de vida marinha.

Como exemplos, no Ceará pode-se citar alguns locais. A praia do Icaraí é uma das que mais tem sofrido com a erosão. Muitas calçadas, condomínios e outras construções na faixa de praia estão sendo levadas pelas águas, até a proteção contra ondas foi em parte destruída pela força das ondas. Na praia de Parajuru, em Beberibe, é das mais ameaçadas de todo do Estado. Barraqueiros já desistem de suas atividades e procuram outros locais. Já em Icapuí a situação é catastrófica, o mar levou colégios, casas, barracas, isso sem falar nos prejuízos pela interrupção do turismo. Em Iparana, apenas 12 anos, sumiram 300 metros de praia, a deixando em avançado estado degradação. Antes ela eram umas mais frequentadas, hoje não se muitos locais próprios para banho.

Praias afetadas pelo avanço do mar.  Fonte: O povo.

Em Fortaleza, na última de ressaca do mar a força da maré levou água e areia à Avenida Beira Mar, gerando congestionamento de veículo na região e dificultando o passeio de pedestres. O avanço inicial do mar se deu a partir da construção Porto do Mucuripe, que desviou sedimentos para áreas como a Praia de Iracema e o Pirambu. Depois da construção de espigões na Capital, mas a erosão foi transferida para praias de Caucaia.

Depois de toda essa situação ter sido agravada pela intensa urbanização, o que se vê é uma verdadeira batalha de moradores e empresários tentando amenizar esse processo. Tentando reverter o cenário, moradores e empresários se juntam para fazer barreiras com pedras e sacos de areia visando reverter o avanço do mar. Mesmo assim, na alta da maré, as águas chegam tão fortemente que arrastam tudo que há pela frente.

Por outro, o poder público, sob pressão de empresários e da comunidade, faz investimentos milionários para impedir a erosão. São exemplos destas ações, a construção do bag wal, uma espécie de dominó de pedras que funcionam como barreia, também de espigões e quebra-mares. Essas obras, segundo estudiosos do Instituto de Ciências do Mar LABOMAR, podem não surtir o efeito desejado. Projetos sem o conhecimento técnico necessário e agindo de forma pontual, sem pensar em perspectivas futuras não trarão resultados positivos, como já vem acontecendo, afirmam os pesquisadores.

Bag Wall no Icaraí. Fonte: Diário do Nordeste.

É importante entender que o processo de erosão no litoral é complexo, resultado de fatores naturais e humanos. Para se reverter esse quadro, devem ser feitas ações planejadas que aprendam a lhe dar com os aspectos da natureza, como a dinâmica costeira e vegetação litorânea. Mais do que barreiras contra as águas são fundamentais obras de requalificação do litoral e o uso consciente da faixa de praia. Além disso, é fundamental, uma constante fiscalização do cumprimento das leis. Assim, poderá se ter uma convivência saudável entre natureza e homem.


Para saber mais:
Site do LABOMAR: