terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pesca Fantasma - Tubarão-lixa Preso na Rede!

Tubarão-Lixa preso em rede descartada no mar: pesca fantasma. 

Mergulhadores se preparam.
Na última sexta-feira uma equipe de mergulhadores do Mar do Ceará saiu para um mergulho com nobre objetivo: retirar redes de pesca que cobriam o naufrágio Macau e coletar informações para a produção de um croqui. Embarcamos no Fortim, porto mais próximo do naufrágio e distante cerca de 130km de Fortaleza.

Os pescadores posicionam as redes para captura os grandes cardumes que nadam ao redor de grandes estruturas ou formações como o naufrágio. O problema é que muitas vezes essas redes se soltam ou são deslocadas por correntezas e facilmente se prendem ao navio.

Peixe morto preso a rede.
A viagem até o naufrágio foi tranquila, com ondulação moderada. Ao descer para amarrar a poita dei de cara um tubarão-lixa preso a uma rede que se estendia de um bordo a outro. Na mesma rede estavam uma lanceta ainda viva, um caranguejo já cansado de tentar se libertar e os restos de um peixe, provavelmente um pirambu que não resistiu e já esta sendo devorado ferozmente por um cardume de xilas que parecia ignorar o perigo de se juntar ao colega.

Ao subir avisei aos colegas o que teríamos que enfrentar: "Tem um lixa preso na rede, teremos que soltá-lo!" Fui a bordo fazer o planejamento. Estávamos em duas duplas e decidimos primeiro soltar o lixa e os outros peixes, depois percorrer o naufrágio para localizar e cortar as grandes redes em pedaços menores. Em um segundo mergulho soltaríamos e levaríamos as redes para a superfície.

 Ao chegarmos no fundo nos posicionamos para a soltura do animal. Uma equipe composta por Merlotto e Fabrício se prontificou para documentar o feito enquanto outros dois segurariam (Marcus e Thiago) e soltariam o animal. Foi realmente um momento emocionante. O bicho se mexia de um lado para outro, já cansado de tentar se desvencilhar e seguir seu caminho. O nylon da rede estava preso bem em cima de suas guelras, dificultando a sua respiração. Chegamos por trás, com facas na mão. Ao tentar segura-lo, o bicho se virou assustado. Pouco depois um mergulhador Thiago Magalhães (vulgo Pinguelão), conseguiu uma boa posição ao segurar a o nylon pressionando seu ante-braço contra o animal. Com dois golpes conseguiu cortar a rede sem machuca-lo ainda mais! O lixa demorou alguns instantes para perceber que estava solto e assim que se deu conta nadou rápido para o azul. A adrenalina realmente dominava nossos corpos! Bolhas saim em excesso de nossos reguladores! Depois do feito nos congratulamos pela contribuição que havíamos acabado de fazer, foi como se todos esses anos de mergulho tivessem realmente valido a pena!
Fabrício cortando a rede.

Recolhemos a redes com certeza de que essa não prenderia mais nenhum animal. Os mergulhadores cortaram varias outras redes, algumas já estavam ali a algum tempo. As maiores se estendiam por mais de vinte metros e cobriam buracos de acesso ao interior do navio, o que com certeza prenderia outras peixes.

Enquanto retornávamos do segundo mergulho com redes nas mãos, um pequeno barquinho chegou e ancorou na nossa frente. Um dos marinheiros no falou aquele barco era do pescador que colocava as redes e estava apenas esperando que saíssemos para posiciona-las novamente.

Apesar disso não fiquei triste, pensei no lixa que morreria se não estivéssemos ali. Pelo menos conseguimos salvar mais um animal e estaremos ali para retirar redes extraviadas novamente. Não sou contra pesca, mas como mergulhador não acredito que existam formas menos agressivas, o problema é conscientizar a comunidade pesqueira.

No domingo retornamos para recolher algumas redes que ficaram na proa e terminar o serviço! o Naufrágio Macau está livre de redes, pelo menos até ontem... Ao todo retiramos cerca de 30 kg de redes e já soltamos dezenas de animais capturados pela pesca fantasma.
Thiago Magalhães, mergulhador que
soltou o tubarão-lixa.

Participaram desta Operação:
Marcus Davis - Instrutor de Mergulho (Profundo, Noturno e Busca e Recuperação) PADI, Instrutor EFR
Luciano Merlotto - Advanced, Nitrox e Wreck Diver PADI
Thiago Magalhães - Advanced, Socorrista EFR, Rescue Diver PADI
Fabrício Barreto - Open Water PADI



Texto e Fotos
Marcus Davis

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Encalhe do Paracuru

Encalhe do Paracuru, dezenas de anos na beira da praia.
Entre as praias de Taíba e Paracuru na altura da Ponta da Piriquara existe um antigo navio encalhado há muitas anos. Me recordo ter visto aquelas grandes caldeiras ainda criança enquanto passeava pela praia com meus pais. Os anos passaram e a curiosidade por naufrágios só aumentou. Por este motivo cerca de 20 anos após a minha última lembrança voltei lá para "um mergulho no seco".

Um navio encalhado é sempre uma oportunidade para aprendermos um pouco mais sobre naufrágios e suas estruturas, como se decompoem e se desmancham ou como se concretam e solidificam. Bem como a aura de mistério e a pergunta que parece gritar de seu esqueleto: que navio era esse?

Muitas possibilidades estão listadas pela Marinha, mas uma confirmação é difícil.
Pois tratava-se de um grande navio de aço rebitado, informação que limita o período de sua construção ao início do século XX. Possuía duas grandes caldeiras para impulsionar seu hélice. Esta bem destruído pois fora cortados a fim de se aproveitar todo metal que fosse possível. Se os naufrágios que estão submersos dezenas de metros são inteiramente retalhados, um navio ena beira da praia é ainda mais fácil de ser "reaproveitado".

O local onde ele está encalhado é repleto de pedras (formações calcárias e coralíneas) que se estendem acompanhando a linha da praia formando uma faixa de cerca de 200m de largura. Disso podemos concluir que qualquer tentativa de encalhe nesta praia fora desesperada e imprudente pois as pedras rasgariam o casco do navio dificultando o seu desencalhe. Algo assim só deveria ser feito na iminência de um afundamento.

As semelhanças com o recém mergulhado naufrágio conhecido por "Vapor do Paracuru" são marcantes. Ambos parecem se situar no mesmo espaço de tempo (pois suas chapas de aço foram rebitadas) e estão distantes entre si apenas algumas milhas náuticas, sendo que um está a 18m de profundidade e outro encalhado na praia. Mais um detalhe: o Vapor apresenta indícios de ter sido submetido a altas temperaturas.

Estariam os seus afundamentos relacionados? Teria o "Vapor do Paracuru" colidido com o "Encalhe de Paracuru"? Seria por isto que o Vapor do Paracuru apresenta indícios de incêndio e que a manobra de encalhe do "Encalhe do Paracuru" fora tão desastrada? Se não, o que aconteceu?

Esse mistério será extremamente difícil de ser desvendado. Um dos motivos são as escassas fontes escritas e orais. Mas guardaremos esse quebra-cabeças a espera de mais uma peça que o complete...

Leia também
Expedição ao Vapor do Paracuru
Novas Informações sobre o Encalhe do Paracuru - o vapor Ceará

sábado, 12 de novembro de 2011

Expedição ao Vapor do Paracuru

Naufrágios poucos explorados tem uma aura de mistério. O manto azul esconde os seus segredos e cabe a nós mergulhadores trazermos para superfície e dividir um pouco desses mistérios.

Praia de Paracuru, CE
Em uma expedição composta por quatro mergulhadores recreativos e um mergulhador livre, partimos para explorar o Vapor do Paracuru. Esse "navio" é há muitos anos conhecido por pescadores da praia de Paracuru e por alguns mergulhadores que décadas atrás o desmontaram para retirar seus metais de valor e tudo o mais que pudesse ser aproveitado.
Meses antes tentamos localizar este naufrágio seguindo coordenadas geográficas do livro de um conhecido pescador sub, mas não obtivemos sucesso. As coordenadas imprecisas do início da década de 90 não nos colocaram exatamente sobre o ponto e, como estávamos no fim do dia, não tivemos muito tempo para procurá-lo.

A Busca
Embarcamos em uma enseada tranquila a vista de um imenso pier da Petrobrás de onde decolava um helicóptero. Estávamos determinados a localizar o Vapor. Tínhamos duas coordenadas que indicavam sua localização, distantes cerca de cem metros uma da outra. Após o embarque navegamos cerca de 2 horas até a área de busca e lançamos uma garatéia com uma bóia entre as duas marcações assim que chegamos. A sonda indicava 18m, temperatura da água 26 graus e a cor da água não prometia mais que 10 metros de visibilidade.
Logo que jogamos a marcação uma tartaruga subiu a superfície, indicando que estávamos no local certo. No entanto, em nossa primeira expedição meses antes apesar de não termos localizado o naufrágio um enorme cardume de guarajubas amarelas passou por nós, algo que também indica a presença de grandes formações no fundo.

Padrão de Busca Circular
Optei por um mergulho solo munido de faca, computador de mergulho, bússola, uma ponny bottle (pequeno cilindro reserva),  uma carretilha e dispositivos de sinalização. Desci junto a garatéia e ao chegar a fundo preparei a carretilha pra uma busca circular. Na superfície os outros mergulhadores abordo do barco acompanhavam minhas bolhas ansiosos por alguma notícia. Expedições de exploração podem ser decepcionantes pois não encontrar o ponto ou encontrar algo que não corresponda a nossa expectativa pode ser frustrante após horas no mar.

Estiquei todo o cabo da carretilha a fim de fazer uma busca circular com raio de 50m. Marquei a posição inicial coma bússola e começei a procura-lo. Após três quartos do circulo e entendiantes 20 minutos com apenas 5 a 6 metros de visibilidade algo começou a mudar. O padrão da ondulação da areia tornou-se irregular e um pouco de cascalho se mostrou, e então... um peixe! E logo outro e outro. Com a carretilha totalmente esticada no limite da visibilidade dava pra ver uma mancha escura no horizonte. Puxei a carretilha nesta direção para arrastar a garatéia e a estrutura tomou forma. Não dava para identificar o que exatamente, apenas uma enorme massa de metálica que subia cerca de 5 metros do fundo. Amarrei a linha de busca ao naufrágio fazendo um "caminho submerso" e subi para avisar aos outros. Vibrei ao dizer "Vamos mergulhar no Vapor do Paracuru"!

Fizemos um breve intervalo onde passei um briefing de como chegar ao naufrágio e o que iriam encontrar. Nos equipamos para o mergulho em que fui o último a descer.

O Naufrágio
Mergulhador na Proa
do vapor do Paracuru
Em duplas começamos a explorar o naufrágio. Logo no início algo me chamou atenção: apesar de bem destruído era possível identificar que as chapas de aço que compunham o costado eram pregadas com rebites e não soldadas. Isso é um indício de que o navio provavelmente fora construído antes do início da década de 30, época em que o uso de rebites para juntar as chapas foram descontinuados. Cabeços de amarração estavam claramente identificados e em um deles, de menor porte e parcialmente enterrado era possível ver que metal derretido o cobria, um indício de que o navio fora submetido a fortes temperaturas, talvez um incêndio possa ter sido a causa do sinistro. Para colher informações de um naufrágio é preciso estar atento aos detalhes...

Muita vida marinha habita o naufrágio: tartarugas, arraia de fogo, cardumes de galos, xilas e sardinhas tão densos que as vezes até atrapalhava a precária visibilidade.

Estrutura da Proa
O naufrágio está bem destruído, seu costado foi "retalhado" e às vezes até é possível "se perder" das estruturas. Mas logo encontramos sua única caldeira cujo o eixo nos levavou até a popa onde estava o seu grande hélice de quatro pás ainda no lugar, cada uma dessas pás mede mais de 1,8m evidenciando o tamanho do naufrágio. Ao localizar a popa "entendi o naufrágio". Entendi que começamos o mergulho pela proa, onde havia amarrado minha carretilha no mergulho anterior. Atrás da popa, grandes estruturas metálicas permaneciam separadas do resto no navio, talvez parte de sua superestrutura. 

Seguindo a quilha central percorremos todo o naufrágio, agora com uma noção mais clara de onde estávamos mergulhando. Também foi possível estimar o tamanho do navio, cerca de 75m a 100m de comprimento. Pouquíssimas e breves penetrações são possíveis. 

A proa e a popa estão melhor preservadas
Ao voltar a proa foi possível identificar cerca de 10 "eixos com rodas" como as de antigas locomotivas, possivelmente parte da carga do navio, algumas ainda estavam cuidadosamente arrumadas no que parecia ser um compartimento de carga de vante. Por bombordo a âncora tipo almirantado permanece junto ao navio sinal de que não foi usada momentos antes do afundamento, mas com uma peculiaridade: apesar de cuidadosamente presa junto ao costado o "braço" da âncora está desalinhado com sua "haste". Algo que para acontecer exigiu muita força ou calor.

Notei também que a popa e a proa são as estruturas mais conservadas no naufrágio. Esta última esta adernada para boreste.

Um naufrágio excepcional que merece ser explorado pelos mergulhadores do Mar do Ceará!

Técnicas básicas de Busca e Recuperação podem ser aprendidas no curso Advanced Scuba Diver PADI ou em um curso completo de especialidade em Search and Recovery PADI (Busca e Recuperação) que você faz no Mar do Ceará!

Você também pode aprender mais sobre Mergulho em Naufrágios no curso de especialidade Wreck Diver PADI no Mar do Ceará!

Participaram da Expedição
Leonardo Freire - Advanced, Nitrox e Wreck Diver PADI
Alexandre Martorano - Advanced e Nitrox Diver PADI
Rodrigo Bricks - Instrutor (Profundo, Noturno, Wreck e Nitrox) PADI, EFR e Tec Diver IANTD
Marcus Davis - Instrutor (Profundo, Noturno, Search and Recovery) PADI, EFR, Supervidor CBCE
Thiago Magalhães - Advanced, Rescue Diver, PADI
Régis Freitas - Mergulhador de Apnéia


Texto
Marcus Davis


Fotos 
Alexandre Martorano

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mergulhe em Dupla! A Amizade por Jacques Cousteau

E isso faz com que nós mais do que amigos, sejamos irmãos. Faz de nós, mergulhadores.
"... E a amizade. Quando vamos até o fundo do mar, descobrimos que ali jamais poderíamos viver sozinhos. Então levamos mais alguém. E esta pessoa, chamada de dupla, companheiro ou simplesmente amigo, passa a ser importante para nós. Porque, além de poder salvar nossa vida, passa a compartilhar tudo que vimos e sentimos. E em duplas, passamos a ter equipes, e estas passam a ser cada vez maiores e mais unidas. E assim entendemos que somos todos velhos amigos mesmo que não nos conheçamos. E esse elo que nos une é maior que todos os outros que já encontramos.

E isso faz com que nós mais do que amigos, sejamos irmãos. Faz de nós, mergulhadores."

Trecho da famosa"Carta aos Mergulhadores" por Jacques Cousteau,
mergulhador, explorador e considerado pai do mergulho moderno.

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mara Hope sofre ação do Tempo!

Mara Hope recém saído do estaleiro,
na Espanha chamava-se Juan de Austria

O grande navio de ferro está próximo do fim!

Depois de mais de 25 anos encalhado na orla de Fortaleza o navio Mara Hope começou a ruir. Sua estrutura metálica é menos da metade do que era o petroleiro Mara Hope que encalhou em março de 1985 em frente ao Hotel Marina Park e pode ser visto de quase toda a orla.  Foi em dezembro do ano passado que a ressaca do mar arrancou uma "fatia" do seu costado deixando toda a estrutura extremamente instável. Qualquer tentativa de subir a bordo é fortemente desaconselhada.

Vejam algumas fotos:
Mara Hope "bem conservado" em 11 de dezembro de 2004
Mara Hope, segmento de travéz - 07 de dezembro de 2005
Mara Hope, lateral de bombordo inteira - 15 de junho de 2006
Mara Hope, detalhe de bombordo onde arrebentou a estrutura - 11 de novembro de 2006
Mara Hope, bombordo ainda inteiro - 08 de agosto de 2009
Mara Hope já parcialmente destruído em 26 de dezembro de 2010
Mara Hope bastante danificado em 03 de novembro de 2011
Mara Hope, detalhe da fissura em novembro de 2011

Estamos acompanhando o fim de um guerreiro espanhol!

Reunião de Mergulhadores - Fotos!

Amigos,

Fotos da nossa última reunião no Estação Bar, no dia 20 de outubro!