Por Paula Christiny
A visão que possuímos do litoral nem sempre foi a mesma. Nossa relação com o mar e a praia foi se transformando por conta de fatores sociais econômicos e culturais de acordo com a dinâmica da sociedade. Para que possamos entender um pouco sobre tais imagens, é preciso conhecer um pouco sobre mulheres e homens do passado tomando um pouco de seus olhares e emoções. Dessa forma, poderemos saber como convivíamos à beira do mar e oceanos ao longo dos séculos.
Construção Grega. Fonte: http://filoparanavai.blogspot.com.br/ |
A Antiguidade Clássica
Começou-se a se escrever sobre a relação dos homens com o mar durante a Antiguidade Clássica. Na Grécia Antiga, os contatos com o mar se deram por causa sua geografia composta pelo continente e várias ilhas. Seu terreno acidentado com poucas terras cultiváveis levava a formação de cidades próximas ao mar, onde se pudessem construir portos, que eram pontos de comércio e comunicação. Além da navegação, a natação também era prática comum entre os gregos, o nado estava ligado à higiene, limpeza e virilidade. Tais costumes simbólicos e sociais contribuíram para o desenvolvimento dessa civilização.
Começou-se a se escrever sobre a relação dos homens com o mar durante a Antiguidade Clássica. Na Grécia Antiga, os contatos com o mar se deram por causa sua geografia composta pelo continente e várias ilhas. Seu terreno acidentado com poucas terras cultiváveis levava a formação de cidades próximas ao mar, onde se pudessem construir portos, que eram pontos de comércio e comunicação. Além da navegação, a natação também era prática comum entre os gregos, o nado estava ligado à higiene, limpeza e virilidade. Tais costumes simbólicos e sociais contribuíram para o desenvolvimento dessa civilização.
Pintura representa invasão bárbara em Roma, Heinrich Leutemann.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
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Na sociedade romana a natação no mar tinha ligação com as atividades físicas e o culto ao corpo, exemplificado no boxeador Tisander, que usava a natação nos seus treinamentos. Entretanto, a queda do Império Romano, em 476 d. C. causada pela invasão bárbara por via marítima, substituiu a visão positiva da praia, por uma de medo, assombro e proibição.
Idade Média
Pintura de um mapa medieval na
National Library of Sweden.
Fonte: www.seuhistory.com
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A Idade Média trouxe mudanças nas mentalidades que passaram a reger seus atos pelas práticas religiosas. Com a influência católica sobre os costumes, o banho de mar passou a ser não considerado uma atitude de bom cristão. Esse período marca a rejeição do homem pelo mar.
Acreditava-se que o sal da água abriria poros onde penetrariam as impurezas dos pecados do mar, morada dos poderes do inferno. Os homens impuros eram castigados com o arremesso dos seus corpos nas águas e a presença dos pescadores era temida, pois eles portariam as mazelas dos oceanos.
A Bíblia trazia reforço a esses temores, segundo seus textos o mar seria cheio de monstros e tormentas, morada do tenebroso Leviatã, personificação do demônio. Aparece também, a figura do dilúvio, massa oceânica que seria um meio de punição de Deus. Em virtude de tais visões construídas, a ocupação do litoral foi temida, poucos se aventuraram a estar próximo da praia.
Renascimento
Tela Santa Maria at Anchor de
Andries van Eertvelt 1492.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
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Nessa época, novos conhecimentos científicos foram adquiridos: a forma dos oceanos foi melhor conhecida, a Lei de Gravitação Universal permitiu a explicação de fenômenos marítimos. Popularizaram-se instrumentos como a bússola e astrolábio que facilitaram a navegação.
Séculos XVIII e XIV
No século XIII surge a Teologia Natural da França e com ela uma nova forma de se apreciar o mar. Deus deixa de ter uma imagem de punidor, para um que na sua imensa bondade dá aos mortais as praias e os oceanos. O que antes era inacessível se tornou objeto de contemplação da natureza.
Tela de P S Kroyer,
A Praia ao Pôr-do-sol.
Fonte: sociedadechesterton.com
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Após a segunda metade do século XVIII, as classes sociais mais elevadas experimentaram novas sensações com a natureza marítima, que passa a ser mais próxima do homem. No século XIX, o banho de mar é tido pela medicina como forma de sanar males do corpo e da mente.
Século XX
O poder do biquini em 1950. Fonte: novomilenio.inf.br
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Nas primeiras décadas do século XX surge a ideia de praia lúdica. O litoral passa a ser visto como um espaço de convívio, alegria e lazer, assumindo o caráter de espaço público.
A visita à beira do mar é feita para proporcionar prazer, ela valoriza os elementos quentes da natureza, o que faz se frequentar a praia nos horários mais quentes. Passa-se a despir mais os corpos e valorizar as sensações corporais, exigindo-se uma exposição direta ao sol. O que importa é olhar e ser olhado. O bronzeado passa a ser um símbolo de distinção social. O banho de sol passa a ser mais importante que o banho de mar.
Brasil
Nau de Pedro Álvares Cabral no Livro das Armadas,
Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa. Fonte: wikipedia.org
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Os sambaquis no litoral brasileiro mostram que povos ocuparam o ambiente costeiro. Mas é a partir do período colonial que e efetiva a ocupação.
O litoral do Brasil foi ocupado de forma descontínua com núcleos pontuais de assentamentos: Zona da Mata Nordestina, Recôncavo Baiano, Litoral Fluminense e Paulista. Ela se deu em virtude de atividades portuárias que eram suporte ao modelo econômico primário exportador. Esse modelo de ocupação perdurou até o século XVIII quando o bandeirismo, a expansão pastoril do Nordeste e avanços militares no Sul levaram a urbanização Brasil adentro.
Basicamente na zona costeira, os brasileiros foram além da pesca rudimentar próxima ao litoral e a navegação de cabotagem. Na costa, as faixas de praia eram utilizadas para atividades pesqueiras, portuárias e despejo de lixo. Tal situação permaneceu até o início do século XX.
Os brasileiros vão a praia. Fonte: novomilenio.inf.br |
A mudança desse pensamento começou quando se passou a associar o mar aos termos medicinais. Nas primeiras décadas do século XIX, a praia se transforma em uma espécie de hospital. Era um modelo nacional dos padrões e comportamentos europeus de medicina higienista e afastamento das camadas populares.
Posteriormente até se chegar ao século XX, obras urbanísticas e políticas sanitárias melhoraram bastante as condições de vida na cidade. Com o disciplinamento dos espaços urbanos a zona litorânea passa a ser área residencial e de lazer. A partir disso, o mar passa a ser local de esportes aquáticos, lazer, caminhadas e banhos de mar. Nessa época, aparecem as ainda hoje comuns casas de veraneio.
Fortaleza
Forte de São Sebastião.
Fonte: http://forttalleza.blogspot.com.br/
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As visões acerca do litoral de Fortaleza mudaram ao longo de sua história. Desde sua posição como um dos primeiros pontos de ocupação até a conquista do status de uma das capitais mais visitadas por turistas do mundo.
O movimento expansionista de conquista de Portugal exigiu a ocupação do litoral brasileiro, o português Pero Coelho iniciou a construção de fortificações ao longo do litoral do que viria a ser Fortaleza, na barra do rio Ceará foi erguido o forte de São Thiago. Ao lado uma povoação conhecida como Nova Lisboa, Lusitânia sendo o primeiro povoado a se estabelecer no litoral fortalezense pós-descobrimento. Porém o povoamento não teve êxito esperado e ocorreu o abandono em 1605 por uma de série de fatores, tais como a falta de recursos, ataques dos indígenas, dificuldades de comunicação com a capitania da Paraíba.
Em 1612 é erguida outra fortificação, por Martim Soares Moreno, esta fortificação foi fundamental no estabelecimento do domínio português na região. Nesse período, Moreno protegeu a costa contra piratas, apaziguou também desacordos entre a população, estimulou a agricultura e a pecuária e ampliou o Forte São Thiago e o batizou de Forte de São Sebastião.
No ano de 1637, a região foi invadida pelos holandeses, que tomaram o Forte São Sebastião, a expedição foi dizimada pelos ataques indígenas. Os holandeses voltaram em 1649, numa expedição de Matias Beck, se instalaram nas proximidades do rio Pajeú, onde construíram o Forte Schoonenborch. Em 1654, o Schoonenborch foi tomado por portugueses, chefiados por Álvaro de Azevedo Barreto, e o forte foi renomeado de Forte de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção no espaço que corresponde atualmente à cidade de Fortaleza.
Após esses eventos não ocorreram mudanças significativas na utilização do litoral de Fortaleza por causa da supremacia econômica do sertão, produtor e detentor das riquezas no Ceará. A mudança desse cenário veio com a construção do porto para a exportação de algodão.
Ainda se associava mar à morte, via-se apenas pobreza e lixo nas praias, que era espaço de circulação de vadios e desocupados. Além disso, local propício às mazelas vindas do mar.
Com a construção do porto, a cidade passou a ser um dos pontos de litoral abertos para o mar. Os meados do século XIX trouxeram para zona litorânea de Fortaleza a valorização gerada pelo porto e das atividades portuárias como armazéns, escritórios e alfândega. Além da exportação de mercadoria, as classes abastadas absorveram ideias e modos ocidentais, através das notícias vindas em navios europeus. A praia passou a ser território de desfrute sendo utilizada para fins de lazer e banhos de mar (predominantemente masculinos), serenatas e passeios de famílias.
Como marcos importantes temos em 1963 a construção da Avenida Beira Mar, e entre 1979-82, a constituição do bairro do Meireles e a instalação de vários clubes sociais no litoral nos anos 50 e 60. Com as obras seguintes vieram as construções dos calçadões da Praia de Iracema, do Futuro e da Leste-Oeste, isso nos anos 80 o que contribuem para a imagem do litoral como zona de lazer.
Fortaleza dos turistas. Fonte: www.skyscrapercity.com |
Hoje Fortaleza é conhecida pelo seu enorme potencial turístico, sendo uma das cidades mais visitadas do mundo, por aqueles que admiram seu litoral. Ela atrai milhares de turistas para as suas praias e movimenta de forma significativa a economia e a oferta de empregos na cidade.
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