"O sertão vai virar mar." E de mar nós gostamos!
Mergulhador no Açude castanhão |
Porta na Casa Pequena |
Um dos maiores do país e o maior do Ceará o açude Castanhão foi construído a partir do represamento do Rio Jaguaribe obra que foi iniciada em 1995 e finalizada em dezembro de 2002. Sua construção objetivava o consumo humano que sofre com as secas frequentes na região. Estas obras se deram em meio a uma grande polemica: a represa iria submergir uma cidade inteira chamada: Jaguaribara!
Em 1957 é criado um novo município: Jaguaribara, que antes era apenas um distrito de Jaguaretama. Esta região foi habitada no final do século XVII e se desenvolveu nas margens do rio perene que a abastecia: o Jaguaribe. A cidade de nome tupi devido a forte presença indígena na região (Jaguaribara significa "Morada das Onças") foi palco de batalhas históricas durante a Confederação do Equador, um movimento separatista deflagrado em 1824. Um dos líderes do movimento, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe foi morto na região durante uma emboscada em local que hoje encontra-se submerso, o "Alto dos Andrade"... A cidade e seus moradores foram levados para uma nova cidade, a primeira projetada do Ceará inicialmente chamada de Nova Jaguaribara.
Como mergulhador tanta história sob a água me empolga! O fato de que agora o que está ali está acessível a poucos me fascina. Mas esse fascínio sempre veio com uma decepção quando se tratava de Jaguaribara: a cidade teria sido demolida antes da chagada das águas, e de fato foi. Mas nem tudo estava perdido. Um colega me passou a informação de que casa isoladas, em pequenos povoados distantes da cidade teriam sido ignoradas e deixadas de intactas. A informação precisava ser verificada então organizamos algumas expedições para verificarmos a "mergulhabilidade" do açude Castanhão.
Localizando os pontos com GPS |
Em uma primeira expedição verificamos a visibilidade da água que se mantém em torno de 6m; a temperatura estável e quente como no sertão: 29 graus; e profundidade média de alguns pontos, cerca de 16m. Mas nada de casas! Na segunda expedição munidos de coordenadas e GPS partimos para a primeira casa que foi encontrada com sucesso em um rápido mergulho! Uma grande emoção que reside na certeza de termos sido os primeiros (Marcus e o Marlon) a visualizar aquelas portas e janelas onde a dez anos atrás moravam pessoas! Hoje já fizemos três expedições e mapeamos várias casas. Muitas não resistiram ao avanço das águas e a sua frágil estrutura ruiu, outras permanecem parcialmente inteiras e algumas estimamos que estejam mais de 70% preservada!
Filtro de água potável na Casa dos 18 |
Algumas casas/pontos:
- Casa Grande da Fazenda, trata-se da maior construção de onde funcionava uma fazenda que hoje está a cerca de 15m de profundidade. A estrutura está bem demolida, mas sua caixa d'água permanece de pé. Este ponto merece mais alguns mergulhos para um mapeamento completo.
- Casa Pequena da Fazenda, na verdade são duas casas, distantes cerca de 30m uma da outra. Também na faixa dos 14m.
- Casa dos Dezoito, assim chamada devido a sua profundidade máxima: dezoito metros. Está mais de 70% preservada, grande parte de seu telhado, sua caixa d'água, e outras estruturas resistiram, nela também foram encontrados artefatos como um ferro de passar roupas, fogão de barro, colher, filtro, cadeira de balanço.
- Casa do Fogão, sua estrutura de alvenaria está cerca de 30% preservada. Algumas paredes estão de pé e sua instalação elétrica permanece no local (mas não dá choque).
- Casa do Jaburu, está aos 14m de profundidade próxima a Pedra do Jaburu, um lajedo que sobe até a superfície. A cerca do quintal da casa está inteira e pode ser vista, bem como tucunarés e outros peixes.
- Pedra do Jaburu, pequeno rochedo, pico de um pequeno morro que emerge da superfície. Um mergulho interessante, cheio de árvores, peixes e até um ninho de cupim submerso!
- Parede da Barragem, local ideal para ambientação inicial antes de nos aventurarmos nas casas.
Os mergulhadores na primeira expedição de mapeamento |
A vida aquática é tímida mas podem ser avistadas pequenas agregações de tucunarés com até 10 indivíduos, pequenos pintados, camarões e lesmas bem como uma flora completamente diferente e diversificada. Outro fato interessante é que a madeira resiste muito mais tempo em água doce do que no mar o que resulta num surreal mergulho pela caatinga!!
Fontes:
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