por Augusto César Bastos e Marcus Davis
R. J. H. Saunders era o capitão do Alcântara. Medeleine Saunders, sua esposa, está enterra no Cemitério São João Batista em Fortaleza. |
É de nosso conhecimento que existem dois naufrágios no litoral da Praia do Paracuru. Um deles está a cerca de 13 km da praia naufragado a 18m de profundidade, popularmente conhecido como "Vapor do Paracuru" e ainda não foi corretamente identificado por nossa equipe. O outro está encalhado na praia, também em Paracuru, nas proximidades da ponta da Piriquara, mas tem sua identidade conhecida, era o vapor Ceará encalhado em 1889.
O Vapor do Paracuru era um navio antigo. Possuía caldeiras para propulsão e as chapas de metal que constituíam seu casco foram rebitadas umas nas outras, tecnologia que caiu em desuso por volta da década de 20. Essas evidências são indícios de tratar-se de uma embarcação construída antes desse período o que a coloca no mesmo espaço de tempo em que o vapor Alcântara navegava em nosso litoral. Seriam o Alcântara e e o Vapor do Paracuru a mesma embarcação?
“Dos relatos da vovó Raimundinha lembro bem da tragédia com sua irmã Rosa Virgínia (Rosinha). Rosinha morava em Manaus onde as fortunas eram fáceis e atraíam grande número de brasileiros e estrangeiros. O marido de Rosinha faleceu de malária e deixou a viúva com muito dinheiro e jóias. Ela desfez os negócios em Manaus e embarcou no vapor Alcântara com destino ao Acaraú. Esse navio naufragou na costa de Paracuru.
Rosinha, como era hábito na época, carregava consigo muito dinheiro e jóias.
Com ela, viajava um seu compadre solícito e prestativo. Na hora do desespero, ele ajudou Rosinha a subir numas pranchas e prontamente ficou com sua valise e uma bolsa. Ele sabia de suas “valiosas” cargas. Pegou um bote para voltar com socorro e não mais regressou. Rosinha sucumbiu junto com o comandante do navio que esperavam inutilmente por ajuda.
Anos depois, esse solícito amigo, em seu leito de morte, angustiado pelo remorso e na presença de muitas testemunhas, relatou toda a cena do naufrágio e chamava o nome de Rosinha pedindo perdão.
Foi assim que a família ficou sabendo da verdade. Ele deixara sua comadre morrer sem socorro para ficar com seus bens.
Esse naufrágio foi no dia 27 de junho de 1892, em Paracuru. O comandante desse vapor Alcântara está sepultado aqui no São João Batista e seu túmulo é próximo à Capelinha da família de Leocádia da Costa Araújo.
Há uma lápide de mármore: R J H Saunders M.I.C.E. Fica no primeiro plano, à esquerda da alameda central.
Vovó Raimundinha sempre que ia à nossa capela dava uma passadinha para rezar pela alma do comandante e dizia “ele e minha irmã passaram juntos os últimos momentos de vida”.
O poeta cearense Lívio Barreto, membro da Padaria Espiritual e um dos mais expoentes de sua geração, se encontrava também embarcado mas conseguiu sobreviver, pois era um bom nadador e chegou até a costa.
Essas anotações chegaram pelas mãos do Dr. Barroso, médico aposentado, que também possui peças do naufrágio. Uma bússola, uma travessa e os pés de uma mesa.
Esse naufrágio foi citado no livro “Datas e factos para a história do Ceará” de Barão de Studart.
É tentador afirmar que o nome real do Vapor do Paracuru é Alcântara. No entanto, esses fatos por si não são suficientes para uma confirmação. Sabemos que existe o vapor do Paracuru e o vapor Ceará, mas e se houver um terceiro? Ou mesmo um quarto naufrágio a vapor na região ainda não conhecido? Registros históricos apontam pelo menos um terceiro naufrágio na região: o vapor Aripuanã, naufragado em 1920, próximo a praia do Pecém...
Fotos
Augusto César Bastos
Leia também:
O Encalhe do Paracuru
Expedição ao Vapor do Paracuru
Novas Informações sobre o Encalhe do Paracuru - o vapor Ceará
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Augusto César Bastos
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Excelente!! Que história! Obrigada por publicar.
ResponderExcluirUma das duas embarcações é o Vapor Ceará da companhia cearense de navegação. Naufragou em Paracuru. O leilão de sua carga e casco ocorreram em 29 de junho de 1887, na própria praia. Mário.
ResponderExcluirSó uma correção, ele pertencia à Companhia Brasileira de Navegação a Vapor. assin. Mário
ResponderExcluirMuito bom saber dessa informação
ResponderExcluirSempre vejo os restos do navio mais não conhecia sua real história
Excelente informação. Já conheço os restos do vapor. Parabéns e obrigado.
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